Em meio a um cenário de dificuldades econômicas, muitos brasileiros têm buscado alternativas para equilibrar as finanças, mas nem todas as soluções são sustentáveis. Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo SPC Brasil revela que 31% da população utilizou o cheque especial nos últimos 12 meses. Para Renan Diego, educador financeiro, esse comportamento é alarmante, pois o cheque especial, embora ofereça facilidade de acesso ao crédito, pode levar ao endividamento rápido devido às altas taxas de juros.
"O cheque especial é uma linha de crédito automática oferecida pelas instituições bancárias, que disponibiliza um valor extra na conta do cliente quando o saldo é insuficiente. Embora seja visto por muitos como uma solução rápida para imprevistos, ele pode facilmente se transformar em um ciclo vicioso, quase como uma bola de neve difícil de controlar. Isso acontece porque o uso contínuo dessa linha de crédito está atrelado a taxas de juros muito altas, que podem ultrapassar 8% ao mês, tornando o endividamento cada vez mais profundo”, Renan explica.
Isso porque o cheque especial, para muitos brasileiros, é interpretado como uma forma de renda extra, por isso, acabam esquecendo que há altos juros envolvidos nessa funcionalidade. A falta de clareza pode levar ao endividamento, já que no mês seguinte, após o uso, não será necessário somente realizar o pagamento da fatura, como também as taxas que estão atreladas ao seu uso.
"A organização financeira é fundamental, pois é por meio dela que aprendemos a planejar nossas economias, estruturar nossas finanças pessoais e, sobretudo, compreender a psicologia do dinheiro. Isso envolve desenvolver inteligência emocional para lidar com a situação financeira atual, já que, muitas vezes, uma dívida reflete a falta de planejamento e a incapacidade de honrar compromissos de forma organizada”, comenta o educador financeiro.
De acordo com o último levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), referente ao mês de março, endividamento das famílias subiu para 77,1%, uma taxa 0,7 ponto percentual acima do observado em fevereiro. Ainda segundo a CNC, esse crescimento deve continuar ao longo do ano. A expectativa é de aumento de 2,5 pontos percentuais no endividamento até o fim de 2025, em relação ao início do ano.
Para Renan, é fundamental utilizar o cheque especial somente quando há chances de arcar com as suas taxas e juros, sem que tenha o risco da falta de pagamento mesmo em momentos de emergência. A criação de uma reserva financeira é uma boa saída para quem está no processo de quitação de dívidas, já que mesmo com um orçamento comprometido, é possível realizar o pagamento sem dores de cabeça.
"Se, em algum momento, você perder o emprego, receber menos ou precisar ajustar seu orçamento devido a imprevistos, isso não precisa se transformar em uma dívida", explica Renan. Segundo ele, essa estratégia de ajuste é uma maneira eficaz de evitar o uso do cheque especial ou o rotativo do cartão de crédito, prevenindo o endividamento e a negativação do nome.
As compras por impulso são frequentemente apontadas como um dos principais vilões da inadimplência. De acordo com o especialista em finanças pessoais, a origem da dívida, em muitos casos, está no descontrole emocional. "Ao fazer compras, especialmente em lojas e shoppings, é importante se questionar: 'Eu realmente preciso desse item?' ou 'Já tenho algo similar em casa?'. Se as respostas indicarem que não há necessidade real, esse questionamento pode ser uma forma de evitar gastos desnecessários."