Com o objetivo de conscientizar as mulheres sobre algo que pode ocorrer na gestação, no momento do parto e do pós-parto ou no atendimento em situações de abortamento, a Secretaria de Estado da Saúde, por meio da Gerência de Média e Alta Complexidade realiza a 1ª Marcha de Conscientização Sobre Violência Obstétrica. O evento acontecerá em Palmas, na manhã da segunda-feira, 27, às 8h30, com saída da porta do Hospital e Maternidade Dona Regina Siqueira Campos (HMDR) e nas demais maternidades geridas pelo Executivo Estadual serão realizadas atividades alusivas ao tema.
A marcha é para dar visibilidade ao dia D Estadual de Combate à Violência Obstétrica, instituído pelo Colegiado das Maternidades, no último dia 27. “A ideia é promover este movimento em todas as maternidades, chamando a atenção da sociedade para o tema e promovendo o esclarecimento no maior número de mulheres”, ressaltou Raquel Marques, gerente de Alta e Média Complexidade da SES.
A violência obstétrica é uma preocupação de integrantes de associações médicas e representantes da sociedade civil. Em março deste ano, o Ministério da Saúde lançou realizou o lançamento de uma cartilha denominada Diretriz do Parto Normal, com mais de 200 recomendações sobre métodos não farmacológicos de alívios das dores e técnicas que devem ser usadas apenas em alguns casos e não rotineiramente, como a episiotomia, corte feito na região do períneo, por exemplo. Evidências científicas mostram que a episiotomia tem indicação em cerca de 10% a 15% dos casos e ela é praticada em mais de 90% dos partos hospitalares da América Latina.
Segundo a fisioterapeuta e doula Wilma Manduca, “é importante que a mulher tenha conhecimento e saiba identificar este tipo de violência que pode ocorrer até no momento de entrada na maternidade, não é um ato cometido exclusivamente pelo obstetra, como muitas pessoas pensam”, afirmou, destacando que a exigência de algumas práticas como a retirada dos pelos pubianos e a lavagem intestinal antes do parto são exemplo de violência que a mulher não precisa se submeter.
Ainda segundo Wilma, a mulher precisa se posicionar como protagonista do trabalho de parto. “Todas devem saber que a hora do parto deve ser respeitada como um momento único da mãe e do bebê que está chegando, então seus acompanhantes e a equipe que a rodeia devem ser de apoio e segurança, respeitando a evolução do trabalho de parto e proporcionando uma experiência positiva”, enfatizou.
A psicóloga especialista em psicologia perinatal e parental que atua no HMDR, Ana Clébia Araújo Araújo, explica que “o momento do parto e nascimento e único da vida da dupla mãe /bebê e família. É um acontecimento marcante que a mulher se transforma em mãe ou em nova mãe como um rito de passagem da vida que deixam marcas significativas e lembranças que jamais são esquecidas não importa os anos. Sendo assim se o momento é marcado por uma violência obstétrica por uma falta de respeito com a mulher em sua singularidade, pode gerar um trauma que se perpetuará por gerações nessa família interferindo na forma de nascer”.
A especialista alerta ainda que a violência “gera uma "castaca" emocional de memória negativa relacionadas ao parto/nascimento que poderá ser preciso um processo terapêutico de elaboração dessa mulher, pois essa vivência implicará nas escolhas inconsciente das outras mulheres por uma questões relacionadas a intergeracionalidade, ou seja como as vivências dessa mãe influenciará a filha ou a neta. Então uma violência obstétrica tem um significado importante na vida da mulher que deve ser evitado, combatido e denunciado para que tenhamos cada vez menos impacto no presente e no futuro dessas mães dessas famílias”.
Dados da Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Sesc mostram que uma em cada quatro mulheres brasileiras sofre algum tipo de violência no atendimento ao parto.
Atos de violência
São caracterizadas como violências obstétricas ações como: negar ou impor dificuldades ao atendimento em postos de saúde durante o pré-natal; realizar comentários constrangedores; ter a cesárea agendada sem recomendação baseada em evidências científicas por pura conveniência e interesse médicos; separar bebê saudável da mãe na primeira hora de vida; impedir a presença de um acompanhante durante todo o período de internação; usar métodos farmacológicos sem o consentimento da mãe; exigir jejum; posição ginecológica ou imobilização; dificultar o aleitamento materno na primeira hora de vida; desumanizar o atendimento; questionar a causa do aborto; realizar procedimentos invasivos sem explicação, consentimento ou anestesia, entre outras.