A iniciativa ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de usar o Twitter para fazer acusações contra a senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, aumentou a tensão entre o Senado e o Governo Jair Bolsonaro.
"Em 4/3 recebi a senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: 'ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.' Não fiz gesto algum", escreveu Araújo, no Twitter.
O comentário de Araújo, que vem sendo criticado por senadores pela sua política de relações exteriores, que teria atrasado a aquisição de insumos para a fabricação da vacina contra a covid-19, supostamente teria como pano de fundo criar uma cortina de fumaça ao sugerir que as críticas que vem recebendo teria outra motivação.
O ministro disse, ainda, que desconsiderou a sugestão "porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria". O post de Araújo foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter Brasil na tarde deste último domingo, 28.
A aposta dos cronistas da análise política é que Ernesto Araújo terá de limpar as gavetas e deixará o governo em breve.
Os senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Leila Barros (PSB-DF) articulam um pedido de impeachment contra Araújo. A intenção é apresentar o pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) ou à Câmara dos Deputados.
Por meio de nota à imprensa a senadora Kátia Abreu, afirmou que o Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. “Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal”, afirmou.
Confira abaixo, na íntegra, a nota da senadora Kátia Abreu.
Nota à Imprensa
O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal.
É uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade. Em um encontro institucional, todo o conteúdo é público.
Defendi que os certames licitatórios não podem comportar vetos ou restrições políticas. Onde está em jogo a competitividade de nossa economia, como no caso do leilão do 5G, devem prevalecer os critérios de preço e qualidade, conforme artigo “O Céu é o Limite” que divulguei na Folha de S.Paulo (21/03/21).
Ainda alertei esse senhor dos prejuízos que um veto à China na questão 5G poderia dar às nossas exportações, especialmente do Agro, que vem salvando o país há décadas. Defendi também que a questão do desmatamento na Amazônia deve ser profundamente explicada ao mundo no contexto da negociação para evitar mais danos comerciais ao Brasil.
Se um Chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira.
Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal.
Brasília, 28 de março de 2021
Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República.