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Esportes

O futebol, frequentemente chamado de “o jogo mais popular do planeta”, há muito deixou de ser apenas um esporte. Ele influencia culturas, movimenta bilhões e, cada vez mais, serve como palco para discussões sociais e políticas profundas. A mais recente demonstração desse poder veio com a mobilização de 50 jogadores profissionais, que assinaram uma carta enviada à UEFA pedindo a suspensão de Israel de todas as competições europeias.

A iniciativa foi articulada pela Nujum Sports, organização que representa atletas muçulmanos no Reino Unido, em parceria com o movimento Athletes 4 Peace. O documento, que ganhou grande repercussão no meio esportivo e político, exige que o futebol não permaneça em silêncio diante do que chama de “matança indiscriminada” e “fome generalizada” na Faixa de Gaza.

“O futebol não pode ser cúmplice”

Na carta enviada à UEFA, os atletas afirmam que o esporte não pode se manter neutro diante da morte de civis — incluindo crianças — e homenageiam Suleiman al-Obeid, conhecido como o “Pelé Palestino”, morto em agosto por forças israelenses. Segundo o texto, Israel deveria ser suspenso até que cumpra o direito internacional e encerre as ações militares que vitimam a população civil.

“O futebol sempre se apresentou como uma ferramenta de união e solidariedade. Permanecer calado agora é ser cúmplice”, diz um trecho da carta, que ecoa uma cobrança feita anteriormente por representantes da Federação Palestina de Futebol e do Conselho de Direitos Humanos da ONU durante congressos da FIFA.

Craques globais apoiam o movimento

Entre os atletas que assinaram o documento estão nomes de peso do futebol mundial, como Paul Pogba (Monaco), Hakim Ziyech (Galatasaray) e Cheick Doucouré (Crystal Palace). O jogador inglês de críquete Moeen Ali também figura entre os signatários, ampliando o alcance do protesto para além das quatro linhas.

O apoio de atletas renomados mostra que a causa transcende clubes e ligas. A expectativa dos organizadores é que a pressão exercida por estrelas do esporte internacional obrigue a UEFA a tomar uma posição mais firme — como aconteceu com a Rússia em 2022, quando a entidade decidiu banir seleções e clubes do país após a invasão da Ucrânia.

Pressão política e resistência da FIFA

A campanha dos atletas chega em um momento sensível. Membros da Federação Palestina e de organizações de direitos humanos já haviam solicitado medidas semelhantes anteriormente, mas a UEFA e a FIFA continuaram permitindo a participação de seleções e clubes israelenses nas competições internacionais.

Agora, com a nova carta, a pressão ganha mais peso político. No entanto, os Estados Unidos já sinalizaram que pretendem intervir nos bastidores para impedir qualquer tentativa de exclusão de Israel da Copa do Mundo de 2026. A justificativa oficial é que o torneio — que será disputado nos EUA, Canadá e México — deve permanecer acima de tensões geopolíticas.

Essa posição reflete não apenas uma decisão diplomática, mas também um cálculo econômico e esportivo. A Copa do Mundo movimenta cifras bilionárias, influencia políticas nacionais e gera enorme interesse em todos os setores ligados ao futebol, das transmissões televisivas ao turismo esportivo. Até o mercado de apostas esportivas, que cresce exponencialmente ano após ano, tem papel relevante nessa equação. Plataformas digitais do setor já se preparam para explorar o evento desde as eliminatórias — inclusive iniciativas menores, como uma plataforma de 2 reais, que atrai apostadores casuais e alimenta a paixão pelo torneio desde as fases preliminares.

Futebol, política e responsabilidade social

O debate em torno da suspensão de Israel reacende uma discussão antiga: qual deve ser o papel do futebol em contextos de guerra e violações de direitos humanos? Para muitos, o esporte deve se manter neutro e focar apenas no jogo. Para outros — e é o caso dos atletas que assinam a carta — a neutralidade é impossível quando vidas estão em jogo.

Clubes e federações esportivas, cada vez mais conscientes de sua responsabilidade social, também têm sido pressionados a se posicionar. Ações como a dos jogadores muçulmanos mostram que o futebol pode ir além do entretenimento e se transformar em uma ferramenta de conscientização global.

O que está em jogo vai além das quatro linhas

Independentemente do desfecho, o pedido dos 50 atletas já é um marco na relação entre esporte e política internacional. Ele coloca a UEFA diante de uma escolha difícil: ceder à pressão e suspender Israel, correndo o risco de tensões diplomáticas, ou manter a situação atual e enfrentar críticas cada vez mais intensas.

O que está em jogo vai muito além dos gols, dos títulos e das rivalidades em campo. O futebol, com seu poder de mobilização, tem a capacidade de chamar atenção para causas humanitárias e de expor injustiças que muitas vezes passam despercebidas. E, em um mundo onde a bola movimenta economias e influencia decisões geopolíticas, a pergunta que fica é: será que o “jogo bonito” pode continuar alheio às realidades que o cercam?