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Economia

Em quatro anos, o endividamento do brasileiro cresceu quase 70% na relação com o número de salários recebidos. Entre cheque especial, cartão de crédito, financiamento de veículos, crédito pessoal e empréstimos imobiliários com recursos livres, o consumidor devia dez meses de salário em setembro. Em 2004, a dívida correspondia a 5,9 meses de salário.

Os cálculos são do consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga. Para chegar a esses números, ele considerou a evolução da massa de salários com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seis regiões metropolitanas e o montante de crédito concedido ao consumidor.

Segundo o economista, esse descompasso entre o crescimento da dívida e da renda dos trabalhadores faz crescer o risco de inadimplência, especialmente agora que o cenário de desaceleração da economia começa a ganhar contornos mais nítidos e poderá ter impactos no nível de emprego.

Embora as estatísticas mais recentes do Banco Central, que são de setembro, mostrem uma certa estabilidade na inadimplência em geral das pessoas físicas, dados do comércio de São Paulo revelam que o calote aumentou em outubro. A inadimplência líquida, que é o saldo dos carnês em atraso acima de 30 dias com os renegociados, em relação às vendas de quatro meses anteriores, que estava em 5,9%, subiu para 7% em outubro, segundo as contas da RC Consultores, com base nas estatísticas da Associação Comercial de São Paulo.

"Houve uma piora do ambiente do consumidor exatamente quando a economia começa a desacelerar", diz o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Além do aumento da inadimplência líquida, ele ressalta que houve aumento de 26%, em setembro, para 31%, em outubro, dos consumidores com contas em atraso que não acreditam que conseguirão pagar as dívidas, de acordo com a pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio).

Também o comprometimento da renda dos endividados aumentou de 34% para 36% de setembro para outubro, segundo informações da mesma entidade. Na análise de Silveira, as informações da Grande São Paulo são um indicador antecedente relevante do que está ocorrendo no restante do País, pois a região é o principal mercado consumidor.

"Hoje existe uma superposição de endividamento do consumidor e o calote não reflete a crise. O quadro da inadimplência deverá piorar nos próximos meses", prevê o economista. Ele ressalta que, com o desaquecimento da produção industrial que deve crescer no ano que vem 3%, a metade do previsto para 2008, a tendência será de perda de dinamismo no emprego e na geração de renda advinda da atividade.

Fonte: AE