Desde o fatídico 15 de setembro de 2008, quando houve a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers e por conseguinte da economia mundial, o agronegócio brasileiro perdeu pelo menos 153 mil empregos. Nessa conta ainda não foram calculadas as baixas, não menos impactantes, nas usinas de álcool.
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), nos últimos seis meses findos em fevereiro o saldo resultante das contratações e demissões formais na agropecuária ficou negativo em 260 mil postos de trabalho - montante 64% maior, ou 100 mil a mais, em relação ao mesmo período do ciclo anterior.
De acordo com estimativa da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes (Abiec), o número de postos de trabalho fechados na indústria do segmento em questão desde o agravamento da crise pode superar 50 mil. O cálculo, segundo Otávio Cançado, diretor-executivo da entidade, considera os frigoríficos fechados e os que reduziram o nível de abates por conta da queda das exportações e do inchaço do mercado interno. "As empresas do setor estão com capacidade ociosa entre 30% e 50%, afirma Cançado.
Somente o frigorífico Independência, que há dois meses era o quarto maior do País em capacidade de abate, demitiu 6,2 mil trabalhadores - mais da metade de seu quadro de pessoal que antes da crise chegava a 11 mil pessoas. O Arantes, que também entrou em recuperação judicial, dispensou outros três mil funcionários, e atualmente mantém cinco mil no grupo.
As indústrias de lácteos demitiram cerca de mil funcionários no sombrio período avaliado, as 550 perdas mais recentes foram decretadas pela Nilza. As indústrias de suco de laranja seguiram a tendência e dispensaram pelo menos 500 pessoas, metade delas com o fechamento da unidade da Citrosuco em Bebedouro (SP). A essas perdas se somam as mais de 1,5 mil sofridas nas indústrias de máquina agrícolas.
Responsável pelo emprego de 1/3 da mão de obra ativa brasileira, do Produto Interno Bruto (PIB) e também das exportações, o agronegócio é movimentado por atividades sazonais e dispersas pelos quatro cantos do País que, se somadas, explicitam o impacto da crise sobre o setor agrícola. O diretor titular do Departamento de Agronegócios da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Deagro/Fiesp), Benedito Ferreira, avalia que, no caso específico do setor, as demissões ou as admissões que deixaram de se concretizar, dispersas tal qual se apresentam, não parecem surtir efeito no mercado, "mas não deixam de ser alarmantes. Perdemos mais que a Embraer e as montadoras juntas".
Eduardo Daher, diretor-excutivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubo (Anda), reforça o coro da camuflagem promovida pela dispersão e sazonalidade características do setor e admite uma redução em postos de trabalho na indústria de fertilizantes proporcional à queda de 25% na produção, registrada desde o último trimestre do ano passado.O professor Antonio Buainain do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) é otimista em relação ao prolongamento do impacto da crise no agronegócio. "A demanda por produtos agropecuários é mais inelástica. Comida é o último gasto que se corta", afirma o pesquisador. Para ele, nas exportações os ajustes já estão sendo feitos "via preço e nem tanto na quantidade. O preço em dólar recuou, mas isso já está sendo minimizado pela desvalorização do câmbio".
Buainain acredita ainda que na agricultura está colhendo a mesma quantidade de grãos dos anos anteriores. "Já na indústria, se a atividade cai, a primeira providência é o corte de pessoal", acrescentou. "Se mantivermos o mesmo volume de produção já é um bom cenário" Na perspectiva global, segundo o professor da Unicamp, a carne terá ajuste de preço. Mas o Brasil tem todas as condições de manter a sua participação no mercado internacional. "Se a gente tiver competência pode até aumentar o volume porque somos competitivos".
Fonte: Gazeta Mercantil