Com o apoio da Prefeitura de Tocantinópolis e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, aconteceu entre dias 18 a 24 de novembro, na Escola Estadual Indígena Mãtyk, na Aldeia São José, no município de Tocantinópolis, o II Encontro da ação “Saberes Indígenas na Escola”, dedicado ao povo Apinajé e contou com a composição do Núcleo das Universidades Federais de Goiás, Tocantins e Maranhão.
O programa teve como objetivo organizar e construir os pilares fundamentais do Curso de Alfabetização e Letramento para professores indígenas que atuam dentro das reservas dos Povos Timbiras que são os Krahôs e Apinajés no Tocantins e, no Maranhão as etnias Ràmkôcamekrá, Apãnjekra, Kríkati e Gavião.
Segundo o professor da UFT, Odair Giraldin o encontro que aconteceu em outras reservas, finaliza sua terceira etapa na terra dos Apinajés tendo um grande aproveitamento por parte dos 44 indígenas participantes.“Estamos finalizado esta terceira etapa tentando atender todos os Timbiras, que é o objetivo da UFMA e UFT e, trabalhar com esses povos conjuntamente porque eles têm muitos intercâmbios culturais, históricos e sociais e, o objetivo da gente é não fragmentar isso, ao contrario, é fortalecer isso para que eles conjuntamente reflitam e tomem decisões conjuntamente no sentido de favorecer a todos eles ao mesmo tempo”, disse.
O encontro preconizou ainda novas reflexões e debates sobre a relação entre letramento, alfabetização, cognição, simbolismo, linguagem e como pensar isso tudo levando em consideração os conhecimentos tradicionais, fortalecendo as discussões entre os professores de como incluir esses conhecimentos tradicionais no processo de ensino de letramento e alfabetização e escolarização.
O diretor e cacique da Aldeia São José destaca que a intenção do Encontro Saberes Indígenas na Escola é fortalecer a cultura dos povos indígenas, para que estes não percam suas origens. “A escola tem trabalhado muito com a questão de poder ensinar as crianças a ler e ensinar para as crianças o que são delas também, porque muitas das vezes elas só aprendem a cultura do mundo e acabam esquecendo-se da própria cultura, as próprias cantorias, pinturas, brincadeiras que realmente são as práticas. A discussão é essa, fortalecer cada vez mais a cultura dentro da escola, dentro da sala de aula e no espaço livre e, tentar colocar essa discussão para implementar a grade curricular futuramente”, comentou.
Silvia Krikati, professora da Aldeia São José/MA, falou que o encontro serviu para que os professores tenham novas habilidades de como alfabetizar os povos indígenas em sua língua materna. “Nós estamos aqui encerrando o ano de 2015 no encontro Saberes Indígenas na Escola. A nossa expectativa é alfabetizar na língua materna de cada povo independente do Estado que residem. A nossa iniciativa é trabalhar com esses conhecimentos tradicionais que os brancos chamam de tradicionais, para serem introduzidos na escola para não percam o vinculo e não ter somente os conhecimentos ocidentais. Nós temos nosso conhecimento e queremos que os alunos também conheçam nosso sistema e a forma da organização na aldeia, para não trabalhar isolado. A nossa meta é publicar o trabalho escrito na língua materna de cada povo”, enfatizou.
O professor da UFT, Marcelo Gonzalez falou que o encontro tem a intenção de transmitir, capacitar e debater com os professores e processo de formação da criança, através da alfabetização e procura trazer para dentro da escola os saberes dos mais velhos que é os conhecimentos tradicionais do povo para que isso seja incorporado ao processo de aprendizado da criança. “Acho que tem sido uma etapa bastante interessante com a participação dos professores apinajés é muito grande, a gente percebe muitos problemas que são comuns dentro do processo de escolarização das crianças, eu acho que são iniciativas como essas que ajudam a gente promover uma escola que seja efetivamente educadora, uma escola que esteja ligada ao que eles são, ao que eles vivem”, frisou.
Júlio Kâmer, professor da Aldeia Mariazinha falou que a iniciativa é fundamental para que haja um conhecimento mais aprofundado sobre as questões didáticas. “O Encontro Saberes Indígenas na Escola é muito importante porque discute, relata e reflete a educação própria sobre o processo de ensino aprendizagem. É muito importante para nós porque quando o povo reflete sobre sua cultura de educação isso nos reflete ao pensamento de coisas de que não estávamos. Esse seminário é muito importante e está sendo fundamental para fortalecer o diálogo da nossa educação. A minha perspectiva em relação a esse evento vai fazer com que a gente trabalhe mais e pesquise mais para estar dialogando e organizando a nossa própria educação no processo de ensino e aprendizagem”, destacou.
Cassiano Apinajé que é também é professor da Aldeia São José disse que o encontro é em razão da prática escolar dentro da escola, pois ultimamente os docentes estão sem aparato científico para a efetivação da educação. “A gente percebe que as escolas indígenas não estão atendendo, não estão conseguindo trabalhar o conhecimento na escola. Então em função disso surgiu essa necessidade, a pedido dos professores, das lideranças, caciques, das comunidades indígenas que vê a sua escola como necessidade de inserir os conhecimentos tradicionais na escola. Por isso que estamos aqui nesse encontro, não só dos professores indígenas, lideranças, caciques, mas também dos anciãos e alguns colaboradores das universidades UFT, UFMA e UFG. Temos vários outros parceiros nos ajudando e isso é muito importante para nós. É importante para nós mantermos os conhecimentos, a cultura indígena dos Apinajés”, explicou.