Márlon Reis é tocantinense natural de Pedro Afonso mas viveu e trabalhou muitos anos no Estado do Maranhão onde se formou em direito e, posteriormente, atuou como juiz eleitoral. É também advogado especialista em direito eleitoral e partidário, doutor em sociologia jurídica e instituições políticas.
Reis se tornou nacionalmente conhecido por ser um dos idealizadores e redatores da Lei da Ficha Limpa, que barra a candidatura de políticos condenados pela justiça.
Hoje, aos 47 anos, Márlon Reis, filiado ao Rede, embarca em uma odisseia ao se lançar como pré-candidato ao Governo do Estado do Tocantins. Neste intento, Reis tem percorrido os municípios tocantinenses reunindo-se com lideranças políticas e comunitárias para apresentar seu projeto político.
Nesta quarta-feira, 28, o pré-candidato tomou café da manhã com sindicalistas na sede da União Geral dos Trabalhadores no Tocantins (UGT.) Ele chegou sozinho, sem a companhia de assessores. Se apresentou aos representantes dos trabalhadores como pré-candidato e declarou “eu vim pra política por vocação. Tenho a perspectiva de quem atuou de fora por muitos anos como jurista. Não estou na política por ingenuidade, estou aqui porque tudo que descobri e pesquisei nesta área não poderia ficar na minha tese de doutorado. Quero apresentar uma proposta real de mudança a um modelo que obviamente não funciona e de insegurança à população”.
O Conexão Tocantins aproveitou o momento para conversar com o pré-candidato a respeito de sua campanha, alianças políticas, propostas e também um assunto que tem se perpetuado nos bastidores, de que ele seria um candidato laranja. Confira a seguir a entrevista.
Conexão Tocantins (CT) - Estas pequenas reuniões com lideranças, comunidades e representações têm feito parte da sua agenda de pré-campanha?
Márlon Reis - “Sim, eu estou visitando as cidades, conversando com as lideranças e também indo pros diálogos abertos com a própria sociedade através do movimento que nós chamamos ‘Diálogos Pelo Tocantins’. Nós vamos percorrer todas as cidades do Estado, visitando, indo aos líderes e também abrindo espaço para conversar diretamente com a coletividade”.
CT -Qual é público-alvo do senhor nestas comunidades?
MR -“Na verdade nós já temos um grupo de mais de mil voluntários que nos procuraram e nós fomos catalogando. Temos contato direto com eles através de mecanismos tecnológicos como grupos de whatsapp e outras redes sociais. Estes voluntários estão fazendo um trabalho muito forte de organização destes eventos. Nós vamos para os lugares com eventos totalmente organizados por voluntários, com nenhum gasto para nossa campanha central.”
CT -O senhor tem se apresentado como uma alternativa ou uma nova figura na política tocantinense?
MR -“Meu nome representará uma opção de mudança que não estava disponível nas últimas eleições. Não se encontrava nas urnas, nas últimas eleições para governo, opções reais de mudança e as pessoas sabem que é preciso mudar, eu percebo isso. O tocantinense sabe que o modelo político instituído desde a criação do estado se exauriu, se esgotou. Então meu nome será uma alternativa real e racional de mudança para as eleições de 2018.”
CT - O senhor é autor do projeto de lei da ficha-limpa. Esse argumento de combate à corrupção é uma peça chave em sua campanha?
MR -“Não há como dissociar minha imagem deste tema, em virtude dos grandes movimentos que liderei nacionalmente em torno desse assunto. Mas ele não é o principal. O tema principal que quero apresentar à sociedade do Tocantins é a racionalidade da gestão. Temos muita coisa a fazer, o estado está atrasado. Deveria ter sido feita muita coisa que não foi realizada. Mas o assunto da corrupção é importante, nós não podemos perder um centavo dos recursos que são para salvar vida das pessoas através da saúde pública, ou para instruir adequadamente as pessoas no sistema educacional. Mas o ponto central da campanha que estou apresentando é uma mudança central nos padrões de gestão do estado em termos de transparência, participação, inovação e atração de investimentos para o Tocantins.”
CT - Caso vença, quais são suas prioridades de gestão?
MR -“O Estado do Tocantins está em uma situação financeira terrível. O Estado praticamente paga somente o salário dos servidores e ainda assim utilizando recursos que pertencem aos próprios servidores, como os recursos que são descontados para o Igeprev e para o Plansaúde. Isso mostra que o estado do Tocantins tem capacidade zero de investimento. Nós precisamos regularizar as contas e transformar o Tocantins em um Estado investidor, não no sentido de ocupar o espaço que é da economia, mas para fomentar o empreendedorismo desde as grandes indústrias até as microempresas para que a economia floresça. O estado tem que perder a dependência absurda da máquina pública. O Estado tem que ser o vetor da livre iniciativa no Tocantins.”
CT -Como o senhor pretende viabilizar sua campanha política? O senhor já conversou com partidos? Quais serão suas alianças políticas?
MR -“Eu já conversei com vários. Mas é muito cedo para falar em alianças. Ninguém as formou ainda. Primeiro vamos definir quem serão os candidatos, o quê não está definido ainda, pois há muita especulação. Depois é que as forças políticas vão se posicionar. Por enquanto eu tenho procurado as lideranças partidárias e afirmado meu interesse em dialogar. Queremos montar um grupo plural, representativo de várias formas de pensamento político. Temos poucas restrições, mas que são sérias, nós não nos alinharemos a quem já governou o Tocantins e nem a pessoas que tenham a vida comprometida por escândalos de corrupção.”
CT -E financeiramente, como pretende viabilizar a campanha?
MR -“Nós vamos gastar pouco dinheiro porque o gasto astronômico que é feito atualmente [por outros candidatos] é baseado na compra do apoio político. Ele é utilizado para formar a chamada estrutura para atores políticos locais irem em busca de votos. Mas nós avaliamos que o Estado do Tocantins não está nesse degrau. As eleições para governador serão definidas pelo voto livre do povo do Tocantins. E nós falamos isso a partir de uma análise das últimas eleições. Não havia candidaturas comprometidas com a mudança suficientemente fortes a ponto de se permitir que se testasse isso no voto. Mas, podemos afirmar, à luz das eleições anteriores, que nem mesmo o apoio massivo de prefeitos a um candidato a governador é decisivo para implicar em uma vitória para o governo. Isso significa que o povo do Tocantins, e isso não é de agora, já vota segundo correntes de opinião. Nossa expectativa é atrair e formar uma grande corrente de virada sem precisar de recursos para pagar líderes locais. Nós queremos a adesão cívica, cidadã, das pessoas. Por isso nossos gastos serão muito modestos e pequenos, com propaganda muito centrada nas redes sociais e também nas nossas viagens para apresentação direta do nosso projeto à sociedade”.
CT -O senhor não teme que o fato de gastar muito pouco vá prejudicar sua campanha?
MR -“Não, pelo contrário, a sociedade vai votar para fazer a virada, porque o muito dinheiro utilizado pelos outros grupos é de origem ilícita. Nós vamos vencer a eleição com poucos recursos. Se nós tentássemos fazer uma campanha parecida com a dos outros nós perderíamos a credibilidade, porque não há como movimentar dezenas de milhões de reais sem que esse dinheiro seja de origem ilegal”.
CT -O senhor vai focar sua campanha nas redes sociais onde há um debate muito polarizado entre esquerda e direita. Como o senhor se definiria dentro deste espectro?
MR -“Eu me defino como um centroavante. Eu me preparei como um grande conciliador, capaz de ouvir e buscar entendimento. Os diversos seguimentos precisam ser todos ouvidos e é preciso propiciar um grande diálogo no Palácio Araguaia em torno dos destinos do estado. E neste diálogo não existe dono da verdade. O papel do governador é operar como um magistrado, ouvindo as diversas visões, seja de patrões e empregados, proprietários rurais e lavradores, enfim, todos os seguimentos, para encontrar consensos. A vida me preparou, e a magistratura fez parte disso, para coordenar mesas de diálogo em busca das soluções. Por isso eu não me definiria em nenhuma dessas pontas”.
CT -Como o senhor avalia hoje o governo Marcelo Miranda?
MR -“Ele prova agora o gosto amargo de uma imensa rejeição fruto do fato de que não houve governo neste último mandato. Foi completamente inoperante chegando até aqui aos trancos e barrancos, mal pagando o salário dos servidores, sem observar o que diz a legislação a respeito. Eu lamento profundamente por este governo que vai terminar este ano. É uma etapa que precisa ser virada, essa forma de fazer político”.
CT -Nos bastidores da política há o boato de que o senhor seria uma espécie de candidato laranja do grupo político do pré-candidato (ao Governo do Estado) Carlos Amastha, para incomodar a candidatura de adversários deste grupo. O senhor já chegou a ouvir isso? Como o senhor encara essa informação?
MR -“Isso é um fake com o agravante de ser estúpido. Por que alguém criaria um laranja para derrota-lo? Porque, se ele for candidato, eu irei trabalhar para derrotá-lo nas urnas. Eu não faço parte do grupo do prefeito Carlos Amastha. Nós temos um projeto completamente independente e isso está muito claro para quem acompanha nosso trabalho. Eu já tive reuniões com ele, como já tive com outros vários líderes políticos aqui, para tratar de questões gerais, mas não fazemos parte do mesmo grupo e, se ele for realmente candidato, eu trabalharei para derrota-lo nestas eleições”.
CT -E como o senhor avalia o governo do prefeito Carlos Amastha aqui na capital?
MR -“Eu acho que ele peca pela falta de diálogo. Ele é uma pessoa extremamente centralizadora. E também tem falhado em um ponto importante que é a justiça fiscal, fazendo pesar exageradamente sobre os ombros de quem não pode pagar por um custo que tem que ser mais racionalmente pensado. Fora isso, ele ainda precisa decidir sobre a candidatura ao governo e, como eu já disse, se isso acontecer estaremos lá como rivais na disputa que eu espero que aconteça num nível mais alto que nas últimas eleições”.