O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Carlos Vital, está no Tocantins e deverá visitar unidades hospitalares no Estado, juntamente com membros da diretoria do Conselho Regional Medicina (CRM). Antes de iniciar as vistorias Vital concedeu entrevista à imprensa na manhã desta quarta-feira, 13, onde divulgou dados referentes à saúde pública no Tocantins.
Os dados apresentados pelo presidente do CFM demonstram uma grave crise de falta de investimentos na rede pública de saúde. O CFM estima que cerca de 6 mil pessoas estão na fila de espera por cirurgias das mais diversas especialidades no Tocantins. Em contrapartida, os investimentos na área não cresceram proporcionalmente ao número de pacientes.
Dos 139 municípios do estado, apenas 43 possuem leitos de internação pelo SUS e outras 70 cidades possuem apenas leitos de repouso. Os dados são preocupantes. Em sete anos, (entre 2010 e 2017) houve crescimento de apenas 4,2% nos leitos de internação em todo o estado, saltando de 2.122 em 2010 para 2.212 em 2017. O crescimento foi menor que o aumento da população do estado neste período que foi de 12%.
Crescimento inferior também na taxa de criação de leitos de repouso nos hospitais públicos. Em sete anos o aumento foi de apenas 7,1%. Hoje o estado conta com 1.209 leitos de repouso e observação.
Segundo o CFM, o gasto médio diário com saúde por habitante no Tocantins é de R$ 2,12, o que dá um total de R$ 764,22 ao ano, por habitante. Esse levantamento leva em conta a soma dos investimentos do Governo Estadual e da União. O valor corresponde a 35% dos que os beneficiários dos planos de saúde gastam por ano para ter direito à assistência complementar.
Leitos de UTI
Apesar de o estado ter registrado um aumento de 36,7% no número de leitos de terapia intensiva, o Tocantins ainda é carente de vagas em UTI pelo SUS. Segundo o levantamento do CRM no Tocantins só há UTI em 4 dos 139 municípios: Palmas, Araguaína e Gurupi. Em 2010 haviam 98 unidades de terapia intensiva no estado; ao final de 2017 era 134.
Fiscalizações
De acordo com a presidente do CRM no Tocantins, Jussara Martins, a entidade realiza fiscalizações frequentes nos hospitais do estado. Segundo a presidente, estas visitas têm como objetivo conhecer a realidade dos hospitais e fiscalizar as condições de trabalho oferecidas aos profissionais.
Foi em uma destas fiscalizações que o CRM identificou no hospital de Dianópolis apenas uma médica trabalhando para atender casos de emergência e os pacientes internados. Atualmente há um indicativo de interdição ética para a unidade hospitalar. “A interdição ética ocorre quando um médico não tem condições de atuar na unidade com as condições adequadas. Hoje há um indicativo de interdição ética no hospital de Dianópolis”, explicou.
Atenção básica
A solução para os problemas da saúde pública passam, segundo o conselho, pela reativação da rede pública de saúde nos municípios, com a reestruturação dos hospitais municipais e unidades básicas de saúde.
“Quando a unidade básica falha, gera-se uma doença que precisa de hospitalização. A tuberculose, por exemplo, deveria ser diagnosticada na unidade básica, quando isso não acontece o paciente adoece e vai parar no hospital que não é lugar de fazer diagnóstico de tuberculose. Na unidade terciária não deveria chegar uma pneumonia simples, por exemplo”. Disse a presidente do CRM.
Para o representante do CRM no Conselho Federal, o médico Nemésio Tomasella, é preciso ainda investir na realização de concursos públicos para contratação de médicos nos municípios e a criação de uma carreira de estado para médicos. “O médico saberia o tempo que teria que trabalhar para chegar até uma cidade maior. Hoje não há déficit de médicos, mas há má distribuição”. Esclareceu.
Já Carlos Vital disse que os municípios estão endividados demais para dar conta de arcar com as despesas provenientes dos gastos com pessoal com a contratação de médicos aprovados em concurso público. Ainda segundo Vital, o Governo Federal dispõe de cerca de R$ 170 bilhões em verbas autorizadas para a saúde, mas que não são utilizadas. “Dizem os gestores do Ministério da Saúde que faltam projetos e proatividade dos gestores municipais e estatais para investimento na saúde, mas isso não é justificativa porque com esta verba que está autorizada, disponível e não utilizada seria suficiente para resolver grande parte dos problemas da saúde nos municípios do Brasil”, finalizou.