Para encerrar o ciclo de capacitações das brigadas florestais das Unidades de Conservação (UCs) do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), o Parque Estadual do Cantão (PEC) recebeu, na última semana, a brigada do Parque e da Área de Proteção Ambiental (APA) Jalapão e APA Ilha Bananal/Cantão, para compartilhamento e troca de experiências tanto no Manejo Integrado do Fogo (MIF), como no combate aos incêndios florestais. A ação, iniciada no mês de abril, objetivou capacitar todas as brigadas das UCs como foco na redução dos incêndios florestais no período de estiagem, bem como proporcionar treinamento para as práticas do MIF.
Vanessa Braz, gerente de Suporte ao Desenvolvimento Socioeconômico, ressalta que o trabalho realizado em 2022 foi diferente dos últimos anos em virtude da pandemia. “Após o fim do período crítico da pandemia, o Naturatins sentiu ainda mais a necessidade de realizar as capacitações das brigadas florestais de forma presencial e também em tempo hábil, anterior ao ao período de estiagem, onde esses profissionais são mais requeridos, porque infelizmente eles estão à frente do combate aos incêndios florestais. Então esse ano, além da gente ter conseguido levar essa capacitação presencial para todas as brigadas florestais nas nossas unidades, também mudamos e estruturamos melhor o conteúdo programático e a metodologia”, explicou.
Neste ano, os servidores do Jalapão foram convidados a ministrarem parte do conteúdo programático. O diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas, Warley Rodrigues, destacou a importância da troca de experiência. “A gente está cada vez mais integrando as brigadas, promover essa troca de conhecimentos no Parque Estadual do Cantão, em especial, que é uma brigada nova, e por isso a gente decidiu trazer brigadistas experientes já dentro do Naturatins, com muito tempo de serviço para fazer essa troca de experiências”, pontuou.
Reinaldo Tavares, chefe da brigada do Parque Estadual do Jalapão (PEJ) há 16 anos, expressou a satisfação com a capacitação. “Estou como brigadista há 16 anos, sempre trabalhando no PEJ, nesse período adquiri bastante experiência e é muito legal a gente fazer essa troca de conhecimentos, falar do bioma e abordar o Manejo Integrado do Fogo. É gratificante vir do PEJ, conhecer a realidade do PEC e vir aqui ministrar, mostrar e compartilhar nossas experiências de trabalho”, destacou.
Comunidades
Uma das vertentes trabalhadas nas capacitações deste ano é a integração das comunidades tradicionais dentro do processo do MIF. “A integração com a comunidade dentro do processo do MIF é muito importante e já há algum tempo que as nossas brigadas não trabalhavam com o conceito de MIF de base comunitária e a gente está retomando isso esse ano, e aqui no Cantão, neste treinamento tivemos a participação de pessoas do assentamento Onalício Barros e a cada dia mais, a gente quer buscar essa comunidade e trazer para o mesmo treinamento que a nossa brigada tem, para o treinamento prático e principalmente o teórico que é quando a gente fala sobre os conceitos e sobre a atividade de integração e valorização dos conhecimentos da comunidade para que a gente tenha um manejo de sucesso”, salientou Warley Rodrigues.
Dona Maria do Socorro, moradora do assentamento Onalício Barros, compartilhou a sua experiência com o fogo. “A nossa comunidade fica na divisa com o Parque do Cantão, no Rio do Coco, e, em 2014, houve um grande incêndio, na verdade todo ano tem fogo e a partir do convite do Adailton [gestor do Parque do Cantão], que foi lá na nossa comunidade para nos convidar para fazer o curso da brigada, a gente veio aqui e teve uma experiência muito boa, com toda a metodologia e todo o estudo que tivemos aqui na capacitação. Com tudo o que foi aprendido aqui, a gente vai poder desenvolver um trabalho, para que o nosso assentamento, com fé em Deus, quando passar uns anos, ele possa ser exemplo para os outros. Por aqui, no município de Caseara, existem 11 assentamentos, e o nosso assentamento é o que mais pega fogo. Nós somos quatro comunitários em formação de brigadistas nessa capacitação”, detalhou.
A torrãozeira e também moradora do assentamento Onalício Bezerra, Maria José Alves, demonstrou gratidão e o seu desejo de ser uma brigadista. “Isso para mim é muito gratificante, era o meu sonho receber isso aqui, faz tempo que eu pelejo com o Adailton e hoje chegou o dia. Como a gente sofre esses danos no nosso assentamento eu acho muito importante conhecer essas técnicas e também eu tenho um sonho de conseguir um trabalho aqui como brigadista do Parque. Tudo o que eu aprendi aqui eu vou compartilhar com a minha comunidade, para ver se a gente sofre menos com os incêndios florestais”, ponderou.
A supervisora da APA Jalapão, Rejane Nunes, destaca a importância do fogo na vida das comunidades tradicionais. “A gente precisa entender que o fogo é muito presente na vida das comunidades tradicionais, que é benefício, que o fogo tem uma relação muito forte com o Cerrado e a partir disso fazer o resgate dos conhecimentos tradicionais, através do que a gente chama de planejamento participativo. Então é trazer isso para o nosso planejamento, incluir essas pessoas que usam o fogo secularmente e, a partir disso, o órgão ambiental se mostrar presente, que está ali para ajudar e apoiar, para que essas pessoas possam fazer o seu fogo com propriedade e segurança", afirmou ao evidenciar a participação das mulheres de comunidades nas capacitações, em especial no Cantão. “A presença feminina no curso de brigadista oferecido pelo Naturatins é um grande início para as mulheres se tornarem protagonistas nas brigadas. Estamos apenas começando”, comemorou.
O chefe da brigada do PEJ, Reinaldo Tavares, apresenta dados que reafirmam a importância de se trabalhar MIF nas comunidades “No início a gente trabalhava mesmo só a supressão do fogo, que era combater o incêndio, hoje a gente trabalha as técnicas do MIF, e com isso a gente diminuiu 80% dos grandes incêndios, isso em específico no PEJ. Interessante falar que já tem uns cinco anos que a gente trabalha a técnica junto com as comunidades que residem dentro do Parque e temos a confiança de fazer o trabalho junto com eles, e com isso temos conseguido reduzir bastante os incêndios dentro da unidade. Eu acho muito interessante esse trabalho de manejo que é onde a gente integra a gestão das Unidades de Conservação junto com a comunidade, isso é muito positivo”, avaliou.
Capacitação
Ao todo, foram capacitadas mais de 150 pessoas, sendo 60 brigadistas do Naturatins das nove UCs geridas pelo órgão ambiental. Além do intercâmbio entre as brigadas florestais, foram utilizados recursos da metodologia participativa, como explica a instrutora e gestora da APA Jalapão, Rejane Nunes. “Nós utilizamos há sete anos, no Jalapão, metodologias que são as ferramentas como o calendário, o mapa falado e a cartografia social. Todas elas são muito importantes para que as comunidades se vejam presentes nessas ferramentas e com isso fica mais fácil para eles cumprirem os acordos que eles fizeram conosco, pactuado por ambas as partes”, expôs.
A gerente Vanessa Braz complementou que todo o conteúdo programático foi estruturado pensando nas especificidades de cada UC. “Neste ano, a gente conseguiu estruturar todo o conteúdo programático de forma que os temas abordados estivessem mais coerentes com a lida dos brigadistas, com as suas funções reais em cada unidade e sua especificidade, tivemos nosso olhar mais atento esse ano e esperamos para que os próximos anos isso continue, estamos muito felizes pelos feedbacks recebidos durante as capacitações”, avaliou.
“Essa é a primeira vez que eu participei de uma capacitação para brigadistas, achei interessante vi que o papel do brigadista é muito importante. A gente fala de MIF, falamos das metodologias e tudo mais, mas o trabalho mais importante é o deles, eles vão auxiliar a gente, nós fazemos o nosso trabalho, mas eles são essenciais para que tudo aconteça. A gente planeja, mas são eles que executam, que estão no campo e que conhecem mais a área”, ressaltou a pedagoga da APA Ilha Bananal/Cantão, Hélia Regina Araújo.
Para Gerson Oliveira, brigadista do Cantão há três anos, muitas coisas mudaram e a capacitação o ajudou a atualizar seus conhecimentos sobre o fogo. “Mudaram muitas coisas desde quando eu comecei a trabalhar aqui, principalmente com o MIF que dá para gente trabalhar melhor. O pessoal do Naturatins está explicando melhor, então eu estou gostando bastante e o conhecimento teórico nos ajuda bastante, porque a cada ano muda mais sobre como trabalhar com o fogo, sobre o fogo bom e fogo ruim e saber essas coisas ajuda o nosso Parque do Cantão”, finalizou.