Conexão Tocantins - O Brasil que se encontra aqui é visto pelo mundo
Campo

Foto: Divulgação

Em apenas sete anos, uma fazenda-modelo de pecuária leiteira, onde é possível alimentar 13 unidades-animal em um único hectare, emergiu de uma fazenda abandonada no Tocantins – e pelas mãos de uma jovem que vivia na cidade e conhecia pouco a vida no campo. Esta poderia ser apenas uma história improvável, na contramão do êxodo rural que persiste no Brasil, onde apenas 12% da população vivia no campo em 2022 (contra 18,8% em 2000). Trata-se, porém, de um exemplo acessível a outros produtores que atuam nesse setor, onde a margem do lucro é baixa, na casa dos centavos.

A transformação que Ariana Silva Braga, hoje com 37 anos, promoveu na fazenda Buritizal, localizada no distrito de Taquaraçu, em Palmas, foi orientada pelo conceito de sustentabilidade em todas as suas dimensões: econômica, ambiental e social. Como a ideia era trabalhar com pecuária, o primeiro passo foi recuperar as pastagens, bastante degradadas. Para isso, elas foram divididas em piquetes, de forma que os animais fossem gradativamente introduzidos à medida em que essas áreas eram recuperadas.

Essa foi a etapa mais demorada do processo, por conta do nível de degradação: foram necessários três anos de trabalho antes que o pasto conseguisse suportar a criação. O processo foi feito com feijão guandu e mandarim, que fixam o nitrogênio no solo e ajudam no crescimento da braquiária, além de gerarem massa orgânica para ofertar aos animais na época da seca. Nessa etapa, também foram priorizadas as áreas críticas para o fornecimento de água, como nascentes e a mata ciliar. Uma nascente foi cercada e em apenas oito meses voltou a produzir água.

A partir daí, as peças foram se juntando como em um quebra-cabeça. Taquaraçu fica em uma região que passa seis meses sem chuva suficiente para manter o pasto. Com isso, o produtor precisa suplementar a alimentação no cocho que, além de representar um custo extra, também interfere na qualidade e na quantidade do leite produzido. Com a disponibilidade de água assegurada na propriedade, Ariana pensou em irrigar as pastagens. Porém esbarrou no custo da energia elétrica. Foi quando decidiu instalar uma usina fotovoltaica, que se pagou em um ano.

Outro investimento pontual que contribuiu com o ciclo econômico da fazenda foi o biodigestor, onde os resíduos da sala de ordenha, da produção de leite e da criação de porcos são transformados em gás para a cozinha e em biofertilizantes para o pasto.  Essa combinação de fertilizantes sem custos, irrigação e o sistema de rotação garantem forragem o ano inteiro, evitando a compra de silagem, asseguram a qualidade do leite e permitem a intensificação de até 13 unidades-animal por hectare. Para a rotação, Ariana usa a altura do pasto como indicador do momento em que precisa transferir o rebanho para um novo piquete. O ciclo de regeneração natural da vegetação, favorecida pela adubação e irrigação, é de 24 dias.

Esse sistema integrado, que gera economia e favorece a produtividade, gera retorno financeiro substancial em uma atividade de margens espremidas. Apenas o fato de ter pastagem o ano inteiro permite economizar seis meses de silagem.

A produtividade do pasto possibilita que a pecuária leiteira ocupe apenas 15 dos 225 hectares da fazenda. Com isso, Ariana conseguiu manter 80% da propriedade preservada – o que trouxe outro benefício para a produção: a possibilidade de oferecer sombra para o gado em uma região conhecida pelo sol forte o ano todo. A preservação da vegetação nativa também foi crucial para a disponibilidade de água: “mais importante que o pasto é a mata ciliar do rio, que dá capacidade para esse rio ser perene e não secar na hora que a gente mais precisa”, afirma Ariana.

Assim como inúmeros outros produtores, Ariana também tem sentido os efeitos do clima. Mas a opção pela sustentabilidade na produção tem sido uma garantia contra os eventos extremos. “Teve a pior seca já vivida”, conta. “Se não tivesse um balanço hídrico gerido, a gente não teria conseguido alcançar a média de produção que a gente alcançou. Com isso, ultrapassamos seis meses inteiriços de seca total, sem um milímetro de água caindo do céu. Daí a importância das áreas de APP que fazem esse abastecimento hídrico”, explica.

Atualmente, Ariana tira 315 litros por dia, que são transformados em queijos vendidos na propriedade e destinados à alimentação escolar. Por trás da qualidade do produto está também a escolha das reses: Ariana optou pela raça Jersey, mais dócil, que produz um leite com maior teor de gordura e proteína e que não precisa do bezerro ao lado na hora da ordenha. Com a reprodução dentro da própria fazenda, Ariana tem o controle também da genética do rebanho.

A experiência dela pode ser reproduzida por inúmeros outros jovens agricultores familiares. Por isso, decidiu participar de uma campanha inédita no Brasil.  “Mãos da Transição” visa sensibilizar produtores com menos de 30 anos a adotarem práticas produtivas responsáveis, que fortaleçam e deem continuidade aos negócios de suas famílias ao mesmo tempo em que respondem aos novos desafios do século 21. Criada pela Purpose, agência de causas, ela engloba treinamentos, cartilhas e ações de divulgação na internet e redes sociais, que são os meios de comunicação mais acessados por jovens, incluindo um vídeo no qual Ariana conta sua história.

Para saber mais, visite o Instagram: https://www.instagram.com/maosdatransicao/ e YouTube: https://www.youtube.com/@maosdatransicao