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Brasil-China

A decisão da China em reduzir a importação de filmes americanos, reaqueceu o debate sobre os impactos da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Em resposta às tarifas impostas pelo ex-presidente Donald Trump, que chegaram a 125% sobre produtos chineses, o governo chinês anunciou que limitará “moderadamente” a presença de Hollywood em suas salas de cinema. Neste cenário cultural, alguns reflexos poderão ser sentidos no Brasil, segundo a avaliação do roteirista e escritor, Igor Verde.

Embora o produto em geral não sofra taxação no Brasil, é possível imaginar movimentos similares no caso de uma retaliação mais direta. “O audiovisual de maneira geral não sofre taxação no Brasil. Mas dentro de um hipotético plano de retaliação do governo brasileiro, um dos movimentos possíveis é a taxação sobre a remessa de dividendos para os EUA produzidos por bilheterias de filmes americanos. O que, eu acredito, só seria levado a cabo em último caso”, explica.

Apesar de parecer distante, o cenário internacional pode trazer impactos diretos ou indiretos ao Brasil. “Talvez maior visibilidade local e caso as políticas protecionistas durem tempo o suficiente para dar margem a isso. Como toda a indústria, o audiovisual também responde ao protecionismo com a geração de produtos locais para um mercado local. Pelo menos é o que se espera. Agora, o Brasil está na América do Sul, lugar que o próprio secretário de defesa americano chama de seu quintal. A menos que haja uma organização da sociedade brasileira no sentido do fortalecimento de sua indústria, principalmente a sua indústria cultural, o mais provável é que continuemos sendo inundados por produtos culturais americanos, que vão com certeza querer manter a sua influência na América Latina”, explica Igor.

Segundo a Administração Nacional de Cinema da China, a decisão acompanha as “preferências do público” e o “fortalecimento da indústria local”. Filmes como “Ne Zha 2”, que arrecadou mais de USnt,8 bilhão nas bilheterias chinesas, demonstram que a produção local tem conquistado cada vez mais espaço. Se a China representa um mercado vital para a indústria americana, a perda de espaço nesse território pode representar um baque significativo para os estúdios de Hollywood, que sempre contaram com bilheterias milionárias em território chinês.

O momento é desafiador para o cinema brasileiro e a cultura nacional como um todo. O roteirista enxerga uma oportunidade para o fortalecimento da indústria no país.“ Caso esse momento seja canalizado para a conscientização da importância de contarmos as nossas histórias, de termos agência sobre os nossos desejos como sociedade organizada, podemos compreender melhor como construir histórias será cada vez mais importante para mantermos nossa existência enquanto nação, em um mundo onde a ideia de regras vai cada vez mais para o buraco”, afirma Igor Verde, que completa: “Esse momento pode estar cheio de oportunidades, mas também povoado de perigos e ameaças”, finaliza.

No fim, o que está em jogo não é apenas a entrada ou saída de filmes estrangeiros, mas questões como o fortalecimento da cultura local e o entendimento do cinema como uma peça chave de poder. (Vira Comunicação)