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Brasil-China

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Imagem ilustrativa. Foto: Freepik

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A entrada da gigante Meituan no Brasil tem potencial para redefinir o jogo no disputado mercado de delivery, hoje dominado por poucas plataformas e frequentemente alvo de críticas por concentração e taxas elevadas. A movimentação não é apenas mais um investimento estrangeiro: traz a força de uma das maiores empresas de serviços sob demanda do mundo, com operações em mais de 2.800 cidades e cerca de 60 milhões de pedidos processados diariamente, segundo dados divulgados pela própria companhia em 2023.

Com o mercado brasileiro de delivery estimado em R$ 40 bilhões para 2024, de acordo com a consultoria Statista, o país se consolidou como um terreno fértil para disputas de grande escala. Uma pesquisa recente da NielsenIQ aponta que 82% dos consumidores urbanos utilizam aplicativos de entrega ao menos uma vez por mês — um dado que torna o Brasil especialmente atrativo para gigantes globais como a chinesa. No entanto, esse potencial convive com um cenário altamente concentrado: o iFood detém cerca de 80% da participação de mercado, segundo o Instituto Locomotiva.

A chegada da Meituan promete desafiar essa concentração. Com reputação construída sobre eficiência logística, uso intensivo de inteligência artificial e políticas de incentivo agressivas para parceiros, a empresa deve apostar em diferenciais como entregas ultrarrápidas e subsídios iniciais para restaurantes. Experiências em outros países mostram que a chinesa costuma investir pesadamente nos primeiros meses para conquistar mercado — estratégia que pode acelerar mudanças significativas no ecossistema de delivery brasileiro.

Para Otavio Boari, CEO do UaiRango, plataforma de delivery mineira, a movimentação pode gerar efeitos estruturais. “A entrada de players globais aumenta a pressão por inovação e concorrência saudável. Mas a adaptação a um novo contexto cultural, somada aos desafios logísticos em cidades médias e pequenas, deve exigir uma curva de aprendizado da operação”, afirma.

Segundo ele, é justamente nas cidades do interior que há mais espaço para inovação com impacto local. “O interior brasileiro tem dinâmicas próprias, com distâncias diferentes, menos densidade populacional e relações mais próximas entre comerciantes e consumidores. É um ecossistema que exige presença local, conhecimento de território e construção de confiança com os restaurantes — e isso não se resolve apenas com tecnologia ou capital”, explica o executivo.

A chegada da Meituan ao Brasil sinaliza uma possível inflexão no mercado de delivery, até então concentrado em poucos players. Ainda sem data oficial de operação, a gigante chinesa avalia rotas de entrada e parcerias locais que podem abrir espaço para um modelo mais descentralizado e competitivo. Para os consumidores, o movimento pode significar serviços mais eficientes e economicamente acessíveis. Já os restaurantes vislumbram maior poder de negociação em um setor onde as margens são tradicionalmente pressionadas. Diante da movimentação de um dos maiores ecossistemas de tecnologia da Ásia, o mercado nacional se vê diante de um novo ciclo de ajustes e inovação forçada pela concorrência global.