O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho registrou uma desaceleração geral de 0,24%. Pela primeira vez em nove meses, o grupo de Alimentação e Bebidas registrou queda de preços, enquanto os custos de Habitação pressionaram o orçamento dos brasileiros. É o que revela o mais recente Boletim Mensal de Monitoramento da Inflação dos Alimentos, divulgado hoje pelo Instituto Pacto Contra a Fome.
O grupo Alimentação e Bebidas registrou deflação (-0,18%). Itens básicos como ovo de galinha (-6,58%), arroz (-3,23%) e diversas frutas, como a laranja-pera (-9,19%), ficaram mais baratos. Essa melhora é atribuída à safra recorde de grãos em 2025 e à valorização do real (abaixo de R$ 5,60 por dólar), que alivia a pressão sobre insumos importados.
A contradição está nos custos de moradia. Em junho, os grupos de Habitação (+0,99%) e Transportes (+0,27%) voltaram a pressionar o IPCA. A energia elétrica residencial saltou 2,96% e as tarifas de água e esgoto subiram 0,59%. Para as famílias de menor renda, esses são gastos incomprimíveis, ou seja, que não há possibilidade de corte ou adiamento.
"Essa queda nos preços dos alimentos é um respiro bem-vindo para milhões de famílias que vinham sentindo o peso da alta contínua nos últimos meses", afirma Ricardo Mota, gerente de Inteligência Estratégica do Instituto Pacto Contra a Fome. "No entanto, é crucial observar o cenário completo. O alívio nas gôndolas não significa que o orçamento parou de apertar”.
O boletim destaca que, embora o IPCA e o INPC (que mede a inflação para famílias de até 5 salários mínimos) tenham variações semelhantes em junho, as oscilações nos preços dos alimentos pesam proporcionalmente mais no orçamento das famílias de menor renda.
“A mensagem de junho não é a desinflação, mas uma mudança na composição da inflação”, destaca Ricardo. “Mesmo com um alívio no preço dos alimentos, a conta de luz e água segue subindo, e isso pode forçar as famílias mais vulneráveis a fazerem escolhas difíceis, como cortar a qualidade e quantidade da alimentação para cobrir as despesas básicas de moradia”.
A análise da elasticidade-renda mostra que itens básicos como arroz e feijão, mesmo com preços em queda, continuam tendo seu consumo expandido pelas famílias de baixa renda. O consumo de itens mais nutritivos, como frutas e laticínios, é altamente sensível ao poder de compra. Isso ressalta a importância de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, que não apenas aumentam o acesso a alimentos, mas também promovem uma dieta mais saudável.
Custo da ‘cesta ideal’
O custo da cesta NEBIN, composta por alimentos in natura e minimamente processados, alcançou R$ 423 por pessoa em junho, valor abaixo do último trimestre e menor que no mesmo período de 2024. Em abril, quando o Pacto Contra a Fome lançou o cálculo, a cesta custava R$ 432; já em maio, R$ 441. A baixa indica uma melhora na acessibilidade à alimentação saudável.
O Pacto Contra a Fome reafirma a necessidade de um monitoramento contínuo e de políticas públicas que considerem a complexidade da inflação e seus impactos desiguais no acesso à alimentação adequada e na segurança alimentar das famílias brasileiras.
Sobre o Pacto Contra a Fome
O Pacto Contra a Fome é uma coalizão suprapartidária e multissetorial que atua no engajamento da sociedade para erradicar a fome, promover alimentação adequada e reduzir o desperdício de alimentos de forma estrutural e permanente. Sua missão é contribuir para erradicar a fome até 2030 e ter todos os brasileiros alimentados adequadamente até 2040. Para isso, o Pacto atua sob três pilares: articulação, inteligência estratégica e incentivo.
“Temos convicção de que a meta é possível de ser cumprida se todos somarmos nesta causa. Governos, setor empresarial, terceiro setor e sociedade civil são imprescindíveis nesta jornada e é unindo essas forças que estamos atuando”, conclui a cofundadora e presidente do Conselho do Pacto Contra a Fome, Geyze Diniz.
Saiba mais sobre o Pacto Contra a Fome e cada um dos projetos em www.pactocontrafome.org