O Amazonas figura entre os estados com maior abismo de ganho entre a elite dos servidores e a média da população, de acordo com a primeira edição do Índice de Disparidade Salarial (IDS), lançado pela Associação Livres. Os deputados federais amazonenses recebem, em média, 35,5 vezes a renda domiciliar per capita da população do local. No Judiciário estadual, a disparidade chega a 41,2 vezes — colocando o Amazonas entre os piores índices do País.
“O Amazonas vive o paradoxo de enfrentar enormes desafios sociais enquanto mantém elites públicas em um patamar econômico completamente distante da população. O IDS revela que não se trata apenas de renda baixa, mas de escolhas institucionais que perpetuam privilégios”, afirma Dalyson Maria, líder Livres no Amazonas.
Região Norte concentra disparidades extremas
A desigualdade salarial no Amazonas reflete um padrão observado em toda a região. O Acre, por exemplo, lidera nacionalmente o IDS, com governadores que recebem mais de 33 vezes a renda média local. Rondônia e Roraima, por sua vez, figuram entre os estados com maior disparidade no Judiciário, com juízes recebendo mais de 39 vezes a renda média da população. Esses números colocam o Norte no epicentro da desigualdade institucional brasileira, evidenciando como elites públicas se mantêm em patamares dissociados da realidade da maioria.
Essa distância é particularmente grave em regiões historicamente marcadas por indicadores sociais frágeis, onde a população enfrenta restrições de renda, infraestrutura precária e acesso limitado a serviços básicos. Em vez de atenuar essas desigualdades, as estruturas salariais do setor público reforçam o contraste e fragilizam a confiança social.
Fora dos padrões internacionais
O IDS também aponta que, enquanto no Amazonas a elite pública recebe dezenas de vezes mais que a população, em democracias consolidadas a diferença dificilmente ultrapassa dez vezes. A comparação internacional mostra que o Brasil se encontra fora da curva global, sustentando um modelo de remuneração que reforça privilégios e amplia o distanciamento entre governantes e governados.
Para Magno Karl, diretor executivo do Livres, “o Amazonas é um retrato de como a desigualdade institucional brasileira está fora dos padrões internacionais. Quando a elite pública se afasta tanto da realidade da população, o resultado é perda de confiança, legitimidade e eficiência no Estado”.
Além de expor o problema, o estudo aponta soluções. Entre as recomendações estão a criação de tetos salariais proporcionais à renda local, conselhos independentes de remuneração, transparência integral sobre benefícios e a adoção do IDS como ferramenta oficial de monitoramento das instituições.
Sobre o IDS
O Índice de Disparidade Salarial (IDS) é uma iniciativa inédita da Associação Livres - associação civil que promove soluções liberais para o Brasil através de curadoria de políticas públicas, qualificação de lideranças e participação no debate público. Produzido com base em dados da PNAD/IBGE e em portais oficiais de transparência, o estudo mede quanto os salários de governadores, deputados, prefeitos, vereadores e magistrados se distanciam da renda média da população em cada estado.