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Educação

Foto: Freepik

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Estudantes negros sofrem 3x mais bullying por raça/cor do que brancos. Esse é um dos dados revelados pelo Instituto Ayrton Senna, que acaba de divulgar a Avaliação do Futuro, um dos maiores mapeamentos no Brasil sobre o impacto das competências socioemocionais no desempenho e bem-estar de estudantes da rede pública. 

A avaliação, que integra as ações de monitoramento dos sistemas educacionais, foi realizada nos estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e Paraná em parceria com o Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (CAEd), da Universidade Federal de Juiz de Fora, e no estado do Ceará. A avaliação compõe um esforço nacional para compreender como aspectos emocionais e sociais interferem nos resultados de aprendizagem dos estudantes e na convivência escolar.

Um em cada quatro estudantes relatou sofrer bullying por um ou mais motivos no período de 30 dias anteriores à avaliação. Os principais são aparência do corpo (11,8%), aparência do rosto (11,3%), raça ou cor (9,5%), religião (6,1%), orientação sexual (5,6%) e região de origem (5,5%). Em relação aos estudantes que relatam sofre bullying por conta de cor ou raça, a desigualdade entre pretos e pardos é evidente: brancos (6,83%), pardos (9,19%) e pretos (17,84%). A Avaliação do Futuro ouviu cerca de 89 mil estudantes do Ensino Médio.

No contexto escolar, o bullying pode ser visto de forma sistemática por meio de a) agressões verbais, físicas ou psicológicas, como xingamentos, ameaças ou apelidos; b) disseminação de informações e rumores que têm como objetivo deixar outra pessoa vulnerável; c) agressão verbal ou psicológica por meio de mensagens de celular, redes sociais ou postagens on-line (i.e., cyberbullying).

“A adolescência é um período desafiador: fatores como as mudanças no corpo, somada à força dos padrões e estereótipos de beleza e das comparações e expectativas sociais, vulnerabilidades emocionais e sociais, pesam no dia a dia”, explica Ana Crispim, gerente de pesquisa no laboratório de ciências para a educação do Instituto Ayrton Senna (eduLab21) e doutora em Psicologia pela University of Kent (Reino Unido). De acordo com Crispim, isso se reflete também nos relatos de bullying quando olhamos para os dois motivos com maiores percentuais: aparência do rosto e aparência do corpo.

“Por isso é tão importante pensar sobre o desenvolvimento de recursos e estratégias para promover um ambiente seguro para todos e prevenir essas ocorrências. O socioemocional pode ser um aliado da gestão da escola nesse sentido para apoiar na construção de um clima escolar saudável e de espaços respeitosos que fazem a diferença nessa jornada”, indica.

Relação entre socioemocional e bullying

Somente no estado do Ceará, onde 56 mil alunos foram ouvidos, já é possível identificar correlações significativas entre o desenvolvimento socioemocional e taxas de bullying. Escolas com nível mais alto do indicador de abertura e respeito à diversidade, por exemplo, possuem taxas mais baixas de bullying (9%) em relação as que possuem níveis mais baixos desse indicador (13%). Isto quer dizer que, quando o clima escolar favorece esses aspectos socioemocionais relacionados à inclusão, o interesse e respeito pela diversidade, o ambiente também se torna menos propenso a práticas de violência entre pares. ​Já as escolas com nível mais alto do indicador de convivência escolar possuem taxas mais baixas de bullying (7%) em relação as que possuem níveis mais baixos desse indicador (17%).

“Os aspectos avaliados no indicador de convivência escolar são elementos essenciais para a construção de um ambiente escolar seguro e respeitoso para todos. Eles dizem respeito à capacidade do estudante de pensar coletivamente, refletir sobre o seu papel na manutenção do bem-estar coletivo e tomar decisões com base em princípios éticos”, aponta Gisele Alves, gerente executiva do eduLab21.

Além disso, Alves explica que, de acordo com o mapeamento, o desenvolvimento e mobilização de competências de amabilidade como o respeito e a empatia apoiam os estudantes a interagir de forma positiva, compreender diferentes perspectivas e agir com bondade, construindo redes de apoio baseadas em confiança mútua. Já as competências de abertura ao novo ampliam a aceitação da diversidade ao estimular a curiosidade por novas ideias, culturas e experiências, além de fortalecer o pensamento criativo e inovador, essencial para compreender e valorizar diferentes opiniões. “Juntas, essas competências apoiam os estudantes a respeitar as diferenças e a agir de maneira inclusiva em contextos diversos”, reforça Alves.

Ainda de acordo com os dados da Avaliação do Futuro, ente as competências que os estudantes apontam precisar de mais apoio no desenvolvimento estão Assertividade e Tolerância ao estresse, ou seja, competências que ajudam a regular conflitos, se posicionar de forma respeitosa e lidar melhor com pressões e tensões do cotidiano escolar, favorecendo relações mais saudáveis e contribuindo para reduzir comportamentos hostis e episódios de bullying. Não por acaso, nas cinco regiões mapeadas, 8 em cada 10 estudantes brasileiros relataram um ou mais sintomas relacionados à ansiedade e depressão em níveis altos, com 38,9% sentindo-se esgotados, 33,9% perdendo o sono por preocupações e 22% afirmando sentir-se incapazes de superar dificuldades.

“Promover o respeito à diversidade e a boa convivência escolar é essencial para criar ambientes escolares inclusivos, seguros e colaborativos, nos quais todos os estudantes possam se desenvolver plenamente. As competências socioemocionais desempenham um papel central nesse processo, ao apoiar os estudantes com habilidades que fortalecem a abertura, a empatia, a comunicação respeitosa, a resiliência e a responsabilidade”, destaca Silvia Lima.