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Foto: Freepik/@mb-photoarts

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O agravamento do conflito entre Irã e Israel, que ganhou novo fôlego neste mês após ataques diretos dos Estados Unidos a instalações nucleares iranianas, já começa a afetar a economia global — e o Brasil não passa ileso. Segundo o professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), Ahmed El Khatib, os reflexos no mercado brasileiro incluem aumento de combustíveis, pressão inflacionária, fretes mais caros e riscos à balança comercial.

“Estamos diante de um conflito com potencial sistêmico. A ameaça de bloqueio do Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial, elevou imediatamente os preços internacionais do barril e acendeu um alerta vermelho nos mercados”, afirma o professor Khatib. Após os bombardeios americanos no dia 21 de junho, o preço do Brent saltou 11%, ultrapassando os US$ 78, e o WTI subiu cerca de 10%, chegando à faixa dos US$ 74–76. Consultorias internacionais já projetam que, em caso de fechamento efetivo de Ormuz, o barril pode atingir até US$ 130.

Essa alta impacta diretamente o Brasil. “Mesmo sendo um dos maiores produtores de petróleo, o país importa parte dos derivados e adota política de paridade internacional. A cada 10% de alta no Brent, o IPCA pode subir até 0,20 ponto percentual”, explica Khatib. Com o petróleo acima de US$ 80, a inflação brasileira pode ultrapassar 6% ainda este ano, o que compromete a trajetória de queda da taxa básica de juros. Atualmente em 15,00%, a Selic pode se manter nesse patamar ou até subir, dificultando o crédito e desacelerando a economia.

Além do impacto nos combustíveis, o comércio exterior também sente os efeitos. O encarecimento do bunker (combustível marítimo) elevou os fretes internacionais, afetando especialmente o agronegócio e a indústria exportadora. “O custo logístico para escoar nossos produtos está mais alto, e isso diminui a competitividade das exportações brasileiras. Ao mesmo tempo, as importações de combustíveis ficam mais caras, pressionando ainda mais o caixa do governo, que pode ser forçado a subsidiar parte desses reajustes”, pontua o professor.

Embora a matriz energética brasileira seja majoritariamente renovável, setores estratégicos como transporte, logística e produção de alimentos ainda são altamente dependentes de combustíveis fósseis — o que torna o repasse inflacionário inevitável.

Para o Brasil e o mundo, os próximos meses serão decisivos. De acordo com El Khatib, três cenários estão em jogo. No mais otimista, o conflito recua e os preços se estabilizam. No intermediário, a tensão persiste sem bloqueio do Estreito de Ormuz, mantendo o petróleo em alta. No pior cenário, com fechamento efetivo do canal, o barril pode chegar a US$ 130, levando o Brasil a uma combinação perigosa de inflação elevada, juros mais altos e crescimento negativo. “Neste caso, o país poderia entrar em estagflação, com IPCA acima de 7,5%, fuga de capitais e elevação da Selic para além de 16%”, alerta.

Entenda o conflito

O conflito entre Irã e Israel atingiu um novo patamar de escalada em junho de 2025. No dia 21, os Estados Unidos lançaram ataques diretos contra três instalações nucleares iranianas – localizadas em Fordow, Isfahan e Natanz – com o argumento de que essas operações seriam preventivas, visando neutralizar a capacidade do Irã de produzir uma bomba atômica.

A ação foi precedida por semanas de tensão crescente na região após ataques mútuos e o assassinato de líderes militares iranianos e israelenses. O Irã respondeu com ataques com mísseis a bases militares israelenses e ameaçou, por meio de seu parlamento, bloquear o Estreito de Ormuz — canal por onde transita cerca de 20% do petróleo mundial.

Em resposta, os Estados Unidos reposicionaram sua 5ª Esquadra para o Golfo Pérsico, reforçando sua presença militar e declarando que impedirão qualquer tentativa de fechamento do Estreito. A comunidade internacional teme uma guerra regional direta, que envolveria não apenas o Irã e Israel, mas também potências como Estados Unidos, Rússia e China, com impactos sistêmicos.

O especialista: Ahmed Sameer El Khatib é Doutor em Finanças e Doutor em Educação, Mestre em Ciências Contábeis e Atuariais, graduado em Ciências Contábeis, Pós-doutor em Contabilidade e Pós-doutor em Administração.  É graduando e doutorando em Psicologia Clínica. É professor e coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor adjunto de finanças da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). (Fecap)