Estamos nas férias escolares. Durante este período, é comum que as crianças passem mais tempo em casa, o que frequentemente leva ao aumento do uso de telas — tablets, celulares, computadores e televisões. Mas, segundo Márcia Ferrari, oftalmopediatra e diretora clínica do H.Olhos, Hospital de Olhos da Vision One, esse hábito pode ter um impacto negativo na saúde visual infantil, especialmente no que diz respeito à miopia.
“A miopia é um distúrbio visual em que a criança enxerga bem de perto, mas tem dificuldade para ver de longe. Isso acontece porque o olho é mais alongado do que o normal ou a córnea é muito curva, o que faz com que a imagem se forme antes da retina”, explica a especialista. E o número de casos tem aumentado significativamente entre crianças e adolescentes, alerta a médica. “Além da genética, o estilo de vida moderno tem papel central nesse cenário — menos tempo ao ar livre e mais tempo em frente às telas são fatores que colaboram diretamente para o avanço da miopia", discorre a médica do H.Olhos”.
O uso excessivo de dispositivos eletrônicos exige um esforço constante da visão de perto, o que pode gerar fadiga ocular e estimular o alongamento do globo ocular, contribuindo para o desenvolvimento da miopia. “Além disso, quando estão focadas em telas, as crianças piscam menos, o que pode causar ressecamento e desconforto nos olhos”, afirma Dra. Márcia.
Nesse contexto, as férias podem ser uma oportunidade para mudar essa dinâmica. “Brincadeiras ao ar livre são extremamente benéficas. A luz solar estimula a produção de dopamina na retina, substância que ajuda a inibir o alongamento ocular, e isso protege contra a miopia”, destaca a oftalmopediatra do H.Olhos.
Ela também ressalta que atividades externas oferecem estímulos visuais variados. “Brincando fora de casa, as crianças focam objetos em diferentes distâncias, o que é um excelente exercício para os músculos dos olhos. Além disso, naturalmente, passam menos tempo em atividades que exigem foco de perto, como ler ou usar o celular”, comenta Ferrari.
A oftalmologista esclarece que pelo menos de 1 a 2 horas por dia ao ar livre, mesmo em dias nublados, já ajudam na proteção da visão. “A luz natural tem um efeito comprovado na prevenção da miopia. Mesmo que o dia esteja fechado, a intensidade da luz do ambiente externo ainda é muito maior do que a de ambientes internos”, explica a Dra. Márcia.
Entre as atividades mais eficazes para a saúde dos olhos estão jogos com bola, esconde-esconde, pega-pega, andar de bicicleta ou de patins, caminhar ou simplesmente brincar em parques. “Todas essas atividades envolvem movimento e foco visual dinâmico, que estimulam a visão de longe e de perto, promovendo um desenvolvimento ocular mais saudável”, diz a diretora clínica do H.Olhos.
Para equilibrar o tempo de tela nas férias, a especialista Márcia recomenda que os pais estabeleçam uma rotina com limites claros — idealmente, de 1 a 2 horas por dia, no máximo — e incentivem brincadeiras fora de casa. “É importante que os próprios pais participem das atividades ao ar livre com os filhos. Isso não apenas fortalece vínculos, como também dá o exemplo. O envolvimento da família é essencial”, reforça a oftalmologista.
A médica alerta ainda para sinais que podem indicar o início da miopia: “Se a criança se aproxima muito da TV, segura o tablet ou livro muito perto do rosto, aperta os olhos para enxergar objetos distantes ou tem dificuldades de leitura na escola, é hora de procurar um oftalmologista”, elucida Dra. Márcia.
Para cuidar da saúde visual dos filhos durante as férias, a oftalmopediatra orienta: “Incentive o tempo ao ar livre, limite o uso de telas, garanta boa iluminação nas atividades em casa, proponha pausas regulares com a regra 20-20-20 e ofereça uma alimentação equilibrada, rica em vitaminas”.
A chamada regra 20-20-20 consiste em: a cada 20 minutos olhando para uma tela ou realizando uma atividade de perto, a criança deve olhar para algo a 20 pés de distância (cerca de 6 metros), por pelo menos 20 segundos. “Essa pausa simples ajuda a relaxar os músculos dos olhos e evita a fadiga ocular”, explica Dra. Márcia.
Por fim, a médica reforça a importância do acompanhamento oftalmológico desde os primeiros anos de vida. “O ideal é que o primeiro exame seja feito entre 6 meses e 1 ano de idade, depois anualmente até os 7 ou 8 anos. E, claro, sempre que houver algum sintoma ou queixa visual, é fundamental buscar avaliação profissional. A detecção precoce é essencial para um tratamento eficaz”, finaliza Dra. Márcia Ferrari, oftalmopediatra e diretora clínica do H.Olhos, Hospital de Olhos da Vision One.