A sexta edição da expedição científica TransCerrado percorrerá 500 km de estradas e trilhas do Cerrado com o objetivo de investigar os efeitos da crise climática sobre o bioma e seus habitantes. Apesar de ser o berço de 8 das 12 grandes bacias hidrográficas brasileiras e um dos maiores centros de biodiversidade do planeta, o Cerrado tem apenas 8% de sua área protegida e vem sofrendo, nas últimas décadas, com o desmatamento e o ressecamento de seus rios.
Nesta edição, os ciclistas-pesquisadores percorrerão a região no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 2001. Nos últimos anos, a área do parque tem sido afetada por queimadas, desaparecimento de cursos d'água e pela pressão da expansão do agronegócio, que ameaça seu potencial para a conservação de espécies nativas e o ecoturismo.
A menos de 100 dias da COP 30, que será realizada em Belém, em novembro, os participantes da TransCerrado deste ano também pretendem colher relatos que subsidiem a inclusão do Cerrado no debate climático internacional.
“O TransCerrado é uma expedição científica que, através da interação com pessoas, busca o diálogo pela preservação do bioma. A cada ano escolhemos um tema para enfatizar. Por exemplo, avaliar os efeitos do fogo ou da perda de água no Cerrado ou ainda os retornos econômicos da sua conservação. Nesta edição vamos discutir como está sendo sentida a mudança do clima na região mais qual é a visão dessas pessoas sobre como enfrentar o problema.”, explica Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e idealizador do projeto.
Em outubro do ano passado, um incêndio florestal atingiu mais de 20 mil hectares da região, forçando o fechamento de trilhas e motivando a abertura de um inquérito pela Polícia Federal, diante de indícios de ação criminosa. O combate às chamas durou sete dias e mobilizou mais de 120 pessoas e 50 veículos.
Segundo dados da mais recente coleção do MapBiomas Água, 91% das bacias hidrográficas do Cerrado perderam volume hídrico, fazendo com que o bioma registrasse uma queda de 28,8% em relação à média histórica, além de 652 mil hectares perdidos para o desmatamento. A combinação entre seca e perda de vegetação nativa tem contribuído para o avanço das queimadas, que, no ano passado, atingiram 10,6 milhões de hectares — uma área maior que o estado de Pernambuco.
Além de Paulo Moutinho, a expedição será realizada por Valderli Piontekowski, pesquisador e coordenador de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica do Instituto; Márcio Bittencourt, coordenador do grupo de ciclistas Rebas do Cerrado e especialista em navegação; e Verônica Foltynek, médica veterinária.
A TransCerrado teve sua primeira edição em 2019, quando mais de 700 quilômetros foram percorridos de bicicleta, de Goiás Velho até o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Ao longo de seis edições, o projeto já percorreu mais de 1.800 km pelo bioma coletando dados, imagens e entrevistas. No ano passado, os ciclistas investigaram o desaparecimento do Rio do Peixe e o ressecamento dos rios do bioma.
Acompanhe as histórias e experiências da nova edição na página da expedição no Instagram e no site. (Ipam)