No último sábado (27), a comunidade de Taquaruçu Grande, distrito de Palmas, transformou-se em palco de um encontro vibrante entre cultura, tradição e consciência ambiental. O “Salve Cerrado! Encontro de Cultura e Tradições dos Povos do Cerrado”, realizado pelo Instituto Puro Cerrado em parceria com a Associação Água Doce – Movimento de Proteção ao Taquaruçu, reuniu centenas de pessoas no Espaço Célia’s Restaurante, fortalecendo a identidade do Tocantins e chamando atenção para a preservação das águas e das matas do Cerrado.
A programação fez parte das celebrações do Mês do Cerrado e da Semana da Árvore e aconteceu em conjunto com o já tradicional “Abraço ao Taquaruçu”, realizado desde 2018. Durante todo o dia, a comunidade recebeu atividades culturais, rodas de conversa, serviços de cidadania e saúde, oficinas de educação ambiental e apresentações artísticas que encantaram moradores e visitantes.
Segundo Andrea Lopes, diretora executiva do Instituto Puro Cerrado e organizadora do evento, a iniciativa vai além da agenda cultural: “Queremos que a comunidade, artistas e visitantes compreendam que preservar este território é vital para a qualidade de vida da comunidade local e também de todos os moradores de Palmas, já que grande parte da água que consumimos na capital vem da bacia do Taquaruçu Grande. O Cerrado é fonte de vida, de histórias e de identidade. Cada canto e cada saber tradicional reforça esse elo com a natureza que precisa ser protegido e respeitado”, destacou.
A gestora também ressaltou a importância da participação comunitária: “Esse não é apenas um evento, é um chamado coletivo para lembrar que o Cerrado é nosso patrimônio de vida, e que sem ele Palmas e tantas outras cidades não existirão como as conhecemos hoje".
Trilha
Um dos pontos altos foi a Trilha do Abraço, que reuniu bikers, cavaleiros e trilheiros em um percurso simbólico em defesa da bacia do Taquaruçu. Durante o trajeto, foram lançadas as chamadas “bombas de sementes”, confeccionadas por estudantes das escolas rurais da região, em um gesto coletivo de semear esperança.
Para Ruy Bucar, um dos organizadores do Abraço ao Taquaruçu, a ação é mais do que simbólica: “Esse encontro é um ato de resistência e de afeto pelo Cerrado. O Abraço ao Taquaruçu nasceu da necessidade de defender as águas que abastecem Palmas e, hoje, ao lado do Instituto Puro Cerrado, ampliamos essa força para que arte e consciência ambiental caminhem juntas".
Serviços e cidadania
Além da dimensão cultural e ambiental, o evento também levou serviços gratuitos à comunidade: agendamento de castração de cães e gatos, aplicação de vacinas antirrábicas, distribuição de mudas e sementes nativas, entrega de kits de testagem rápida e cadastro de agricultores familiares. A soma das ações deu o tom de um encontro que buscou cuidar das pessoas e do território ao mesmo tempo.
A programação contou também com feira de produtos vendidos pela comunidade local ao longo de todo o dia. A produtora rural Kiyo Tsunoda, da Chácara Flora, no assentamento Coqueirinho, também participou do evento comercializando produtos locais. “Coloquei à venda alguns itens da chácara, como leite, queijos, farinha branca e de puba, ovos caipira e peixe caranha de criatório. Foi uma experiência muito positiva, que gerou renda para comunidade e ainda entretenimento e serviço para toda a região. A distribuição de plantas e toda a organização mostraram o cuidado dos realizadores. Eventos como esse fortalecem nossa identidade, porque é assim que a gente se reconhece como parte do Cerrado".
Palco da diversidade cultural
A tarde foi marcada por um cerimonial diferenciado em ritmo de cordel, conduzido pelas atrizes Sheyla Virgínio e Ana Kamilla. Os integrantes do Projeto Vereda iniciaram as apresentações e abriram espaço para manifestações culturais e debates. Grupos tradicionais, artistas locais e atrações musicais como Vozes de Ébano, Samba de Santo e Tô Pagodeira levaram ao público um mosaico de sons e ritmos que celebraram a força cultural do Tocantins.
Um dos momentos mais emocionantes foi a leitura do Manifesto pelas Águas e pelo Cerrado, quando Organizações da Sociedade Civil e lideranças comunitárias se uniram em defesa das nascentes e da preservação da bacia do Taquaruçu Grande. O documento será levado à COP 30 por meio da Manifestação de Matrizes Amazônicas.
Um chamado coletivo e aberto a toda a comunidade, o “Salve Cerrado” e "Abraço ao Taquaruçu" reafirmou a urgência da preservação do bioma e das águas que abastecem Palmas. Mais que um festival, foi um encontro de afeto, resistência e celebração da vida no Cerrado.
O evento foi realizado com patrocínio do edital da Lei Aldir Blanc (PNAB), via Fundação Cultural de Palmas (FCP) e Ministério da Cultura (MinC).