Depois de passar pela Bahia e pelo Espírito Santo, o Seminário Internacional de Educação Inclusiva chega agora ao Tocantins, em sua terceira edição. Este ano, o evento tem como tema “Práticas, promoção e defesa da educação em direitos humanos”. Realizado em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (FIETO), o Serviço Social da Indústria (SESI) reúne educadores de todo o Brasil para discutir e refletir sobre novas estratégias de acessibilidade.
Na abertura, o presidente da Fieto, Roberto Pires, ressaltou um dos principais pilares que movem a educação na rede Sesi: “educar para incluir”. Esse compromisso é evidenciado pelo crescimento de 219% nas matrículas em Educação Especial entre 2019 e 2024. “A escolha desse tema reforça o direcionamento do Sesi em produzir conhecimento e contribuir para uma educação cada vez mais inclusiva”, declarou.
Com mais de 370 mil estudantes, o Sesi reafirma seu compromisso com uma educação que acolhe a diversidade. Refletir sobre novas formas de incluir crianças e jovens é essencial para garantir que ninguém fique para trás no processo de aprendizagem. Nesse cenário, a rede tem se tornado referência nacional, conforme destaca o superintendente de Educação do Sesi, Wisley Pereira.
“O Brasil tem muito a ensinar. A educação inclusiva já é uma realidade nas escolas Sesi, mas essa responsabilidade deve ser de todos. As redes de ensino podem se inspirar na nossa experiência e construir suas políticas para uma educação inclusiva e de qualidade”, enfatiza.
O presidente do Conselho Nacional do Sesi, Fausto Augusto Junior, também esteve presente na cerimônia de abertura. Para ele, o debate sobre inclusão vai além das salas de aula e envolve o reconhecimento das diferentes realidades do país. “Falamos das pessoas com deficiência, mas também das questões de gênero, étnico-raciais, dos territórios e dos imigrantes que chegam ao Brasil e passam a ocupar postos de trabalho”, explicou.
O seminário surgiu com o propósito de promover dentro da própria rede Sesi debates acerca da Educação Inclusiva, que é um universo muito amplo, conforme ressaltou Fausto. Após três edições, e já com destino marcado para Fortaleza (CE), em 2026, o evento se tornou um convite para que todos os educadores brasileiros repensem suas práticas inclusivas em sala de aula, confirma a gerente de Formação em Educação do Sesi, Katia Marangon.
“O fato de o Sesi ter se tornado uma referência em Educação Inclusiva foi apenas uma consequência do trabalho que estamos realizando. Essa itinerância em diferentes estados amplia ainda mais o debate e oportuniza que cada vez mais pessoas possam participar”, concluiu Katia.
O palco também foi espaço para o relato do pequeno Davi Ferreira, de apenas 10 anos. Estudante da Escola Municipal de Santa Luzia, em Araguaína (TO), ele foi diagnosticado aos 3 anos de idade com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com carisma e sensibilidade, Davi compartilhou as dificuldades que já enfrentou em ambientes escolares. Sua fala emocionou o público e reforçou, entre os educadores presentes, a importância do acolhimento adequado em sala de aula. “A inclusão é necessária. Sem ela, a criança não entende, não aprende; e há muita diferença entre interagir e ser, de fato, incluída na escola”, destacou.
Foto: Jean Costa/Divulgação FietoA Educação Inclusiva na América Latina foi destaque no primeiro dia
“Integração não é inclusão". A mesma ideia expressa do "jeitinho de criança" pelo estudante Davi Ferreira foi aprofundada pela convidada Belén Arcucci, professora da Universidade de Buenos Aires (Argentina), coordenadora da Rede Regional de Educação Inclusiva da América Latina (RREI) e do Programa de Direitos das Pessoas com Deficiência da Associação Civil pela Igualdade e Justiça (ACIJ).
Durante a palestra magna do evento, Belén apresentou um panorama histórico da construção do direito à Educação Inclusiva na América Latina, que evoluiu por meio de declarações, convenções e pactos até alcançar o cenário atual presente nas escolas.
Para chegarmos a esse ponto, a professora destacou que a educação passou por três abordagens: a exclusão, em que esses estudantes não tinham direito algum de estar em ambientes educacionais; a segregação, quando o sistema criou espaços específicos para o atendimento desse grupo; e a integração, quando as escolas abriram suas portas, mas ainda sem práticas realmente inclusivas que garantissem a aprendizagem de todos.
Belén ressaltou ainda que as barreiras enfrentadas por essas pessoas ao longo dos anos não nasceram de suas necessidades, mas sim do próprio sistema educacional. “A inclusão supera essas abordagens discriminatórias. É uma resposta a esse histórico — um sistema capaz de receber e valorizar todas as pessoas, independentemente de suas características”, concluiu.
O seminário segue com programação ao longo do dia, com debates em mesas-redondas e oficinas temáticas.