A relação dos gatos com a alimentação envolve fatores biológicos e comportamentais que diferem dos hábitos de outros animais domésticos. O paladar seletivo e as preferências alimentares estão ligados ao instinto de sobrevivência, características anatômicas e ao desenvolvimento dos sentidos. Compreender essas peculiaridades para facilitar a adaptação da dieta e melhorar o bem-estar dos felinos é o que vamos abordar na coluna dessa semana.
Os gatos são carnívoros obrigatórios, ou seja, sua alimentação natural é baseada principalmente em proteínas de origem animal. Na natureza, a ingestão de vegetais ocorre em menor proporção e de maneira indireta, por meio do conteúdo estomacal das presas. O organismo dos felinos possui características anatômicas próprias para esse tipo de dieta, como a dentição adaptada para rasgar carne e um sistema digestório simplificado, com estômago menor e intestino curto.
Além da anatomia, o paladar dos gatos apresenta particularidades. Eles não possuem receptores para o sabor doce e têm menos papilas gustativas em comparação aos humanos. Por outro lado, o olfato desempenha um papel fundamental na escolha dos alimentos. Com um número de células olfativas três vezes maior que o dos humanos, os felinos são sensíveis a odores e podem recusar alimentos expostos a cheiros fortes de produtos de limpeza ou armazenados por muito tempo.
A seletividade alimentar dos gatos está mais relacionada à percepção de frescor e segurança do alimento do que a preferências arbitrárias. A perda de odor e sabor da ração, causada pelo contato prolongado com o ar, pode levar os felinos a recusarem a refeição. Além disso, potes muito fundos ou estreitos podem causar desconforto ao tocar os bigodes, impactando a aceitação da comida.
Outro fator que influencia as preferências alimentares é a experiência adquirida nos primeiros meses de vida. Gatos que experimentam diferentes texturas e sabores quando filhotes tendem a aceitar uma dieta mais variada na fase adulta. Esse comportamento se reflete também na administração de medicamentos, que podem ser melhor aceitos quando manipulados em formas úmidas, como molhos e pastas, com flavorizantes atrativos.
O imaginário popular muitas vezes associa os felinos ao gosto por peixes, mas essa preferência não é universal. Na natureza, a caça dos gatos se concentra principalmente em aves e roedores. Na rotina doméstica, alimentos com sabor de frango costumam ser mais bem aceitos, seguidos por opções como carne bovina e cordeiro. Caso um gato demonstre resistência à ração oferecida, a recomendação é testar gradativamente novos sabores, evitando mudanças bruscas que possam afetar seu sistema digestório.
Além da escolha dos alimentos, a higiene dos comedouros e a disposição do espaço destinado à alimentação também impactam a aceitação da comida. O ideal é que os recipientes sejam lavados regularmente e posicionados longe da caixa de areia para evitar a contaminação e a rejeição do alimento.
O comportamento alimentar dos gatos é resultado da combinação entre instinto, sentidos e experiência. A adaptação da dieta considerando esses fatores contribui para a manutenção da saúde e bem-estar dos felinos, além de facilitar a rotina dos tutores na oferta de uma alimentação adequada.