Farmacêuticos do Hospital Regional de Araguaína (HRA) acionaram o Sindicato dos Farmacêuticos do Estado do Tocantins (SINDIFATO) para atuar em conflitos na unidade. De acordo com a entidade representativa da categoria, a escala de plantões, a sobrecarga de trabalho, denúncias de assédio e também de um suposto "crime plantado" estão entre os problemas que estão sendo apurados.
O presidente do Sindifato, Renato Soares Pires Melo, explica que desde 2023/2024 acontece atrito entre a farmácia e a direção do HRA, muito por conta dos horários dos plantões. O Estado regulamenta os plantões (de 24 horas, de 12 horas e de 6 horas) nas unidades de saúde hospitalares do Tocantins. "O plantão de 24 horas nunca foi proibido, é previsto na portaria, e têm profissionais que preferem fazer esse tipo de plantão porque moram em outra cidade, porque têm outro emprego ou têm mais tempo com a família; e têm profissionais que não se adaptaram a esse plantão, [...], mas a questão é que quando decidiam pela troca de plantão, documentada e assinada pelo coordenador da farmácia, quando chegava o pedido na direção, a direção negava a troca de plantão, sem nenhum motivo, prejudicando a programação dos profissionais", explicou.
As negativas, de acordo com o Sindifato, impactam diretamente os farmacêuticos, os médicos, dentistas e fisioterapeutas. "Acabaram com os plantões de 24 horas porque a direção não queria que fizesse e não explicou o motivo", criticou o presidente do Sindifato.
Sobrecarga de trabalho
Um segundo atrito ocorre com relação à sobrecarga de trabalho. De acordo com o Sindicato dos Farmacêuticos, não há profissionais suficientes para a unidade hospitalar. "Tinham oito contratos, eles saíram, não renovaram os contratos desses oito. O pessoal que ficou, ficou sobrecarregado. Alguém da diretoria teve a brilhante ideia de fazer um ofício, assinado pela direção do hospital e pela coordenadora da farmácia, de que o farmacêutico responsável pela farmácia central, no dia do plantão dele, ele ficaria responsável também por cinco farmácias satélites dentro do hospital, então pronto-socorro, centro cirúrgico, alas de internação", informou o presidente Renato.
O representante dos profissionais reclama ser humanamente impossível um farmacêutico responsabilizar-se por toda a demanda. "Ele não consegue sair de um lugar para outro, porque geralmente trabalha sozinho, ele mais um técnico. Nunca ficam dois farmacêuticos num horário, e cada farmácia tem um farmacêutico responsável, presente no plantão, porque a demanda é muito grande: chegam a fazer atendimento de 300, 350 prescrições em um plantão. Então a categoria avisou que não teria como assumir a responsabilidade de todas as farmácias durante o plantão e que o hospital que conseguisse pessoal. Foi o segundo embate", esclareceu o presidente.
Polícia no HRA
O Sindicato apura ainda a denúncia de uma farmacêutica da unidade. O presidente Renato Soares, afirma que a profissional saiu de plantão, em abril, e ao retornar para o HRA foi surpreendida pela presença da Polícia. "Ela saiu para uma consulta médica, ficou umas duas horas fora, e quando voltou estava uma confusão na farmácia, com a Polícia Militar e a direção do hospital. E o que aconteceu: alguém, ninguém sabe quem foi, pegou uma quantidade significativa de medicamentos que estavam vencidos nos postos de enfermagem, fez um pacotão, levou para a farmácia, colocou dentro de um descarte inapropriado, aquela caixa amarela que a gente chama de descarpack [...] e denunciou isso para a direção do hospital e a direção chamou a polícia, tudo isso em menos de duas horas", explicou.
O presidente reforça que quando a profissional chegou à unidade, "já estava o circo armado. A gente não sabe quem foi que fez isso e nem o porquê".
A forma como o medicamento foi descartado levanta suspeitas, como acrescenta Renato Soares. "Primeiro porque não é um procedimento padrão da farmácia. Todo farmacêutico sabe que não se descarta medicamento desta maneira. É muito improvável que alguém, por mais leigo que seja, por mais recém-formado que seja, tenha feito essa atitude. A gente achou muito estranho a forma como aconteceu. Segundo, a farmácia não é um lugar que as pessoas entram e saem. É um lugar fechado e que só entra o farmacêutico e o assistente. A gente não sabe se alguém da farmácia, em outro horário de plantão ou se foi alguém de fora que entrou lá e plantou isso dentro da farmácia. De qualquer maneira, criou um atrito", analisou o presidente do Sindifato.
O Sindifato confirmou que notificará a direção do hospital para pedir esclarecimentos sobre o ocorrido, se há processo administrativo para apurar responsabilidades, e também cópia do boletim de ocorrência. Em caso de negativa, a entidade representativa acionará a Secretaria Estadual de Saúde (SES/TO) e, posteriormente, o Ministério Público (MPTO).
Posicionamento da SES/TO
Por meio de nota oficial encaminhada ao Conexão Tocantins, a Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informou que o Hospital Regional de Araguaína (HRA) possui mais de 30 profissionais farmacêuticos, o que é suficiente para atender a demanda existente na unidade e os plantões obedecem às legislações vigentes, no que tange à carga horária.
A SES-TO destacou ainda que já solicitou a interveniência do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e do Conselho Regional de Farmácia (CRF) para o ajuste de conduta dos profissionais na unidade hospitalar, bem como já determinou a abertura de sindicância para as investigações e providências legais cabíveis.