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Opinião

Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins.

Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins. Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins.

Com a repercussão da notícia sobre “três em cada dez brasileiros serem analfabetos funcionais”, veiculada em praticamente todos os jornais sérios do país, é possível pensar, entre tantas coisas, algo assim: há alguma preocupação verdadeira com o processo de ensino e aprendizagem no Brasil? Quem realmente trabalha na educação, independentemente do nível, fundamental, médio, superior, sabe bem qual é a resposta a essa indagação.

Discutir o modelo atual de educação implantado no Brasil é urgente, mas isso ficará, como dizia Fofão, nos idos do início dos anos 1990, “para um outro pôr do sol”. Este texto pretende contribuir com aqueles que já são alfabetizados, explicando-lhes algumas diferenças interpretativas entre fato e opinião.

Após Nietzsche, em “Vontade de Poder” (uma obra póstuma), dizer “Não existem fatos, apenas interpretações”, um movimento “revolucionário”, que culmina no desconstrutivismo, teve início e afeta o ocidente até hoje. Em outras palavras, o embaralhamento entre fato e opinião, que é efetivamente interpretação, foi colossal. Claro, aqui foi feita uma gigantesca simplificação para ser possível dar a devida importância ao resgate da concretude do fato e da opinião.

Vamos ao fato: a cada dez pessoas, três têm problemas de alfabetização. Provavelmente essa cifra é ainda maior, uma vez que aqueles que deixaram a escola, por diversas razões, ou mesmo não foram recenseados nesse estudo, não estão contemplados pelos numerais três e dez (uma opinião). A educação brasileira é vergonhosa (outra opinião), já que o país possui os piores indicadores educacionais do mundo (fato ratificado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes [PISA]). Explicando: o fato, para ser expresso, carece apenas da descrição, já a opinião, para ser manifesta, opera por meio da argumentação, que, por sua vez, pode ser fraca, mediana ou forte.  

Portanto, dizer que três a cada dez brasileiros são analfabetos funcionais, após a realização de um estudo coordenado por diversas instituições com certa credibilidade, é enunciar um fato, pois há concretude e, principalmente, há a possibilidade de revisar os dados que geraram a cifra preocupante. 

Eis agora o pulo do gato da opinião, que, como vimos, age pela insidiosa argumentação. 

Com o nível de alfabetização precário, é necessário implantar programas de alfabetização nas escolas (isso já existe desde a criação da escola com os sofistas). A alfabetização é fundamental para o crescimento da economia, pois quem sabe ler e escrever, fazer contas simples, pode ter melhor empregabilidade e, por essa razão, mais chances no competitivo mercado de trabalho (uma opinião até bem fundamentada). Será implementado um incentivo à leitura e ao cálculo nas escolas, aqueles que realmente conseguirem ler e interpretar, conseguirem resolver problemas de álgebra e aritmética avançaram os estudos para o nível posterior (isso nem pode ser argumentado, pois teria um impacto tão grande na sociedade que jamais seria necessário diferenciar fato de opinião).

Podemos, então, concluir um fato e uma opinião baseada nas condições históricas e verificável pela experiência concreta: 1) a cada dez brasileiros, três são analfabetos funcionais; 2) o número vai aumentar.

*Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins.