A reação dos produtores de carne norte-americanos, liderados pela National Cattlemen’s Beef Association (NCBA), em aplaudir a imposição de tarifas pelo presidente Donald Trump contra o Brasil em 50% não causou surpresa. Há tempos que as associações de produtores americanas questionam a importação de carnes brasileiras. Alegam, em suma, com afirmações até levianas, que: (1) os níveis atuais e existentes dos padrões de segurança alimentar brasileiros são baixos e não confiáveis; (2) que o aumento das importações de carnes do Brasil, um grande exportador de carne bovina, terá o condão de deprimir os preços pagos aos produtores locais. Em resumo, almejam proteção de mercado.
Não é preciso delongar muito nos argumentos para desmistificar completamente as acusações sobre a gestão sanitária do rebanho brasileiro, que é executada com muito esmero, tanto é verdade que vem recebendo a aprovação de países outrora reticentes quanto à esta questão. O Japão é um exemplo notório disso.
O fato é que o aumento da produtividade brasileira, nos últimos anos, colocou o País na vanguarda da produção de todas as commodities que representam o chamado “complexo carnes”, que reúne a criação de bovinos, ovinos, caprinos, aves e suínos, além da base da alimentação composta de milho e soja. O Brasil tem a cotação da arroba do boi gordo, medida em USD, mais baixa entre os maiores países produtores.
A evolução das exportações brasileiras de carnes para os EUA vinha crescendo de forma expressiva, basta ver que, até abril deste ano, foram exportadas 135,8 mil toneladas, o que representou 60% de tudo o que foi exportado no ano anterior.
Favas contadas, resta ao Brasil a negociação à exaustão. Buscar novos parceiros comerciais e demonstrar ao mundo que a evolução da produtividade da pecuária do Brasil é permanente, e veio para ficar.
Mas, a julgar pelos discursos nacionalistas e pelo grau de enfrentamento constante à administração Donald Trump a situação pode piorar. Basta ver a movimentação após o anúncio do governo brasileiro sobre a intenção dos países integrantes do BRICS em promover o uso de moedas locais no lugar do dólar em transações internacionais. Este discurso, liderado pelo presidente Lula, irritou profundamente o presidente norte-americano.
Em resumo, o que se vislumbra, a continuar o discurso agressivo, é o caos. Como bem ensinou o diplomata Rubens Barbosa, que também preside o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice), devemos negociar à exaustão, mas de forma direta, sem recados e com presença continua em Washington. Não adianta enviar cartas. E está certíssimo. Sem a negociação o caos estará presente, e será difícil reestabelecer o equilíbrio no futuro. Um jogo de perdedores.
Desta forma, por mais promissor que seja, e esteja, o setor do agronegócio do Brasil será duramente atingido. Infelizmente, perderá forças, que a duras penas conquistou nas últimas décadas.
*Sylvio Lazzarini é empresário do setor de serviços e foi presidente da Associação Brasileira dos Confinadores de Gado (Abraco), membro efetivo do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC).