Apesar da inflação acumulada em 12 meses ainda girar em torno de 5,3%, os núcleos permanecem relativamente ancorados. O próprio Banco Central, na ata da última reunião, reconheceu que os efeitos das altas anteriores seguem em curso e que é prudente observar os desdobramentos nos preços, na atividade econômica e nas expectativas.
Em meio à desaceleração do consumo, elevação do endividamento das famílias e incertezas fiscais, o cenário recomenda cautela. A perspectiva de cortes nos juros apenas a partir do início do primeiro trimestre de 2026 ganha força com a deterioração recente do arcabouço fiscal e o receio de desancoragem das expectativas inflacionárias.
Embora improvável, observa-se a possibilidade de um último ajuste residual de 0,25 ponto percentual, caso os dados do IPCA, câmbio ou expectativas de inflação tragam surpresas negativas de última hora. No entanto, tal movimento teria mais peso simbólico do que impacto prático.
As probabilidades embutidas nos contratos de juros futuros negociados na B3 apontam para uma chance inferior a 3% de nova alta — praticamente um indicativo de que o mercado já precificou a pausa como a mais provável de ser implementada.
O que esperar daqui para frente?
O grande enigma agora é quando começará o ciclo de afrouxamento monetário. Entende-se que tal redução pode começar a partir do fim de 2025, caso o governo apresente sinais concretos de responsabilidade fiscal e a inflação convirja de forma mais firme para o centro da meta. Porém, o cenário mais provável aponta para cortes a partir do primeiro trimestre de 2026, conforme abordado anteriormente.
Em resumo, o Banco Central deve seguir o manual da prudência mantendo o percentual da taxa em 15%aa. Em tempos de incertezas econômicas e políticas, manter a taxa Selic inalterada é menos uma escolha técnica e mais uma declaração de compromisso com a estabilidade macroeconômica.
Enquanto isso, investidores e empresários seguem atentos, ajustando portfólios, revendo planos e esperando o próximo movimento do Copom — que, ao que tudo indica, será de esperar e observar.
*Luan Cordeiro é mestre em economia e economista da Droom Investimentos