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Saúde

Foto: Divulgação HDT-UFT

Foto: Divulgação HDT-UFT

Limpar quintais e terrenos para evitar o acúmulo de matéria orgânica é uma medida simples e eficaz para evitar a reprodução do mosquito-palha, o inseto vetor que causa a leishmaniose, doença endêmica no norte tocantinense e que tem duas versões: a tegumentar, mais comum, e a visceral (ou calazar), essa mais grave. 

Especialistas do Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), referência regional para o diagnóstico e tratamento dos pacientes, explicam sobre a doença, que tem a Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose (período que inclui o dia 10 de agosto) como um marco para a conscientização da sociedade. O HDT é uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).  

“Como ainda não existe uma vacina disponível para humanos, a prevenção é a melhor forma de evitar a doença com a eliminação de focos do vetor e educação em saúde. O município de Araguaína apresenta alta endemicidade para as leishmanioses, assim como o estado do Tocantins e demais estados que fazem divisa, como Pará, Maranhão e Piauí”, comenta a gerente de Atenção à Saúde do HDT, Andrielly Jesus, que é pesquisadora do tema.

A profissional destaca que o serviço de vigilância em saúde em parceria com o HDT vem adotando medidas de cuidado com a doença, como o encoleiramento de cães em áreas prioritárias com coleiras repelentes para o mosquito vetor, vigilância ativa para humanos e cães, testes rápidos e equipe multidisciplinar especializada.

A leishmaniose não se transmite de pessoa para pessoa. A transmissão acontece pela picada da fêmea do mosquito-palha, que atua como vetor. O inseto contaminado por ter picado um animal (como cães, roedores e cavalos) que hospeda o protozoário leishmania infecta os seres humanos com o parasita.

“No Brasil, temos duas formas da doença: a leishmaniose tegumentar americana (LTA), que atinge qualquer lugar da pele e mucosas, como nariz, boca e garganta, sendo a mais comum e, via de regra, não é fatal; e a leishmaniose visceral (ou calazar), que é a forma mais grave, com elevada mortalidade se não tratada a tempo e corretamente por acometer órgãos, como fígado baço e medula óssea”, explica o infectologista Tobias Garcez.

A LTA apresenta-se como uma úlcera endurecida, com bordas elevadas, um fundo seco e indolor parecendo um vulcão. Costuma ser mais grave quando acomete as mucosas em que as úlceras promovem perfuração nasal, dificuldade para engolir, dor e rouquidão. “Costumamos citar os trabalhadores rurais expostos ao mosquito, populações em área de desmatamento e ecoturistas como os grupos de maior exposição”, explica Garcez.

A leishmaniose visceral, por outro lado, apresenta sintomas mais sistêmicos e significativos: perda de peso, febre prolongada, sudorese, desnutrição, aumento do fígado e baço, anemia, queda das plaquetas e da imunidade que colabora para outras infecções secundárias, por exemplo bacterianas. “Os grupos de risco incluem imunossuprimidos (pessoas vivendo com HIV e transplantados, por exemplo), crianças pequenas, idosos e desnutridos”, completa.

Diagnóstico e tratamento

Andrielly Jesus pontua que o diagnóstico da leishmaniose tegumentar é feito por exame clínico das lesões na pele e/ou mucosas, associado a exames laboratoriais. “O tratamento é feito com medicamentos administrados por via intramuscular ou intravenosa que estão disponíveis no HDT”, disse.

Já o diagnóstico da leishmaniose visceral é feito por exames sorológicos, como o teste rápido rK39 ou ELISA, PCR para detecção do DNA do parasita e punção de medula óssea, baço ou linfonodo com exame parasitológico direto (considerado padrão-ouro em muitos serviços). “É importante destacar que o município de Araguaína já disponibiliza o teste rápido no serviço público de saúde proporcionando assim um diagnóstico rápido e início precoce do tratamento”, destaca.

Segundo a pesquisadora, o tratamento da forma visceral depende da gravidade e da condição do paciente.

Pesquisa

Atualmente, o HDT em parceria com a UFNT, secretaria de saúde de Araguaína e com financiamento do Fundo de Amparo à Pesquisa do Tocantins (FAPT) está analisando por meio de estudo científico as características das leishmanioses em humanos, canídeos e sua manifestação territorial. “Esse estudo tem o potencial de direcionar as ações de saúde de forma mais acurada em áreas de alto risco para a disseminação da doença, além de compreender a dinâmica entomológica e epidemiológica da doença na região e no município de Araguaína”, ressalta Andrielly.

Por meio de resultados do estudo, foram realizadas duas edições de um curso de capacitação com os agentes de saúde e endemias e técnicos do município sobre os principais sinais e sintomas da doença em humanos e canídeos, além de informações adicionais para disseminação de conhecimento entre a população em geral, como, por exemplo, um e-book educativo gerado pelos pesquisadores disponibilizado aos participantes.

Sobre a Ebserh

O HDT-UFT faz parte da Rede Ebserh desde 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação. (UFT)