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Opinião

Eduardo Fischer é CEO da MRV&CO e líder com ImPacto - ODS 11, programa do Pacto Global da ONU.

Eduardo Fischer é CEO da MRV&CO e líder com ImPacto - ODS 11, programa do Pacto Global da ONU. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Eduardo Fischer é CEO da MRV&CO e líder com ImPacto - ODS 11, programa do Pacto Global da ONU. Eduardo Fischer é CEO da MRV&CO e líder com ImPacto - ODS 11, programa do Pacto Global da ONU.

Estive na China em abril de 2025 e pude vê-la sob uma ótica bem mais ampla do que os estereótipos e as simplificações tão comuns no ocidente. Vi o País que analistas e economistas chamam de “a nova China”; um País que equilibra o que poderia parecer uma dicotomia irreconciliável, que cria o cenário para uma economia inovadora e potente: centralização política, descentralização econômica – nas palavras da economista Keyu Jin, professora associada da London School of Economics, atuante em Londres e Pequim. 

Isso é fundamental para contextualizar as transformações que colocam a China em destaque, e combina-se à cultura de disciplina e compromisso, à valorização do conhecimento e à visão afiada sobre as forças produtivas que fazem mais sentido hoje. 

Na China, trabalha-se muito, estuda-se muito. O desenvolvimento vem pelo esforço; envolve, além de “conhecer”, “saber aplicar” – coerente com uma cultura de nação milenar que alinha pessoas, famílias, sociedade, estado e iniciativa privada; um “jeito de ser e de agir” compartilhado e perpetuado, que sustenta a rede em que tudo avança na mesma direção. 

A lógica cultural conta com incentivos sistêmicos. O governo chinês prioriza as habilidades aplicadas e estimula as formações STEM (em tradução, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), favorecendo a disponibilidade de talentos em tecnologia e áreas correlatas – escolha crucial para o desenvolvimento econômico e tecnológico e para a crescente independência chinesa em capital intelectual. Para comparação, dados da Unesco e do Fórum Econômico Mundial apontam que, entre chineses formados em carreiras de curso superior, 33% se especializam em áreas STEM; no Brasil, são 17%. 

Na dicotomia centralização política, descentralização econômica, talvez esteja a maior surpresa para quem teimar em ver a China como um sistema enrijecido.  

A China que tirou 850 milhões de pessoas da pobreza em pouco mais de 30 anos e viu o IDH passar de 0,410 em 1978 para 0,761 em 2020 tem política centralizada, que define os grandes objetivos, e gestão descentralizada para fazer acontecer. O governo determina índices a atingir e estabelece referências – o “porquê”; as províncias decidem como serão canalizados esforços, investimentos, recursos intelectuais e humanos – o “como”. 

Nesse equilíbrio eficiente, há um consistente contrato social que evidencia esforço individual e progresso pessoal como componentes de um organismo coeso. Os interesses da comunidade estão acima dos pessoais, e essa sociedade é motivação para o indivíduo – um todo que estimula, cria oportunidades e orgulha; que alavanca conectividade e cooperação entre pessoas, empresas, países. 

A economia mais dinâmica do planeta é exemplo de como o alinhamento a um propósito combinado à pluralidade de meios cria as condições para o crescimento. Não por acaso, isso é presente também em organizações bem-sucedidas. 

O jeito chinês de promover transformações foi resumido por Deng Xiaoping, líder supremo da República Popular da China entre 1978 e 1992 e responsável pela chamada economia de mercado socialista: “é preciso cruzar o rio sentindo as pedras sob os pés”. Ver elementos, desafios e resultados dessas transformações é um aprendizado inspirador para lideranças; aliás, para todos. 

*Eduardo Fischer é CEO da MRV&CO e líder com ImPacto - ODS 11, programa do Pacto Global da ONU.