No dia 23 de setembro, o mundo celebra o Dia da Bioproteção (Bioprotection Day), uma data criada para chamar a atenção para o papel estratégico do controle biológico e do uso de bioinsumos na construção de uma agricultura mais sustentável. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a Embrapa Soja (PR) e o CABI – Centre for Agricultural Bioscience International, com o objetivo de sensibilizar produtores, técnicos e pesquisadores sobre o potencial dessas tecnologias, além de difundir informações sobre seu uso correto e eficiente.
Em 2025, a Embrapa Cerrados comemora 50 anos de contribuição à ciência agropecuária brasileira, e sua história se confunde com a evolução do controle biológico no país. A Unidade iniciou suas pesquisas na área em 1980, com estudos sobre o uso do fungo Metarhizium anisopliae para o controle de cigarrinha-das-pastagens – pragas que causavam grandes prejuízos à pecuária. Entre 1981 e 1984, os primeiros experimentos em larga escala foram conduzidos no Distrito Federal, Goiás e norte de Minas Gerais, com aplicação terrestre e aérea do bioinseticida.
A partir de 1984, os pesquisadores passaram a estudar as condições climáticas ideais para maximizar a eficácia do controle biológico, garantindo que os fungos pudessem causar epizootias no campo. A cooperação internacional também marcou a trajetória da Unidade: de 1988 a 1992, em parceria com a Japan International Cooperation Agency (JICA), foram realizados trabalhos com parasitoides de ovos de percevejos da soja, como Trissolcus mitsukurii e T. basalis.
Nos anos seguintes, a pesquisa avançou para o desenvolvimento de formulações mais eficientes de fungos entomopatogênicos e tecnologias de aplicação que aumentassem a sua persistência no ambiente. Entre 2001 e 2003, por exemplo, estudos com o fungo Sporothrix insectorum atingiram níveis de controle superiores a 90% contra o percevejo-de-renda-da seringueira (Leptopharsa heveae).
Desde 2008, a equipe da Embrapa Cerrados atua em projetos com usinas de cana-de-açúcar no Cerrado, visando o controle biológico de pragas como a cigarrinha-da-raiz (Mahanarva spp.) e o bicudo-da-cana (Sphenophorus levis), com resultados altamente positivos. Nesse período, foi desenvolvida também uma isca biológica à base de Beauveria bassiana para o manejo de formigas-cortadeiras.
Outra contribuição relevante foi a publicação, em 2010, de um manual técnico sobre produção massal e aplicação de fungos entomopatogênicos, que serve como referência para diversas biofábricas no Brasil. Mais recentemente, a Unidade tem investido em pesquisas com vespinhas do gênero Trichogramma, parasitoides de ovos de lepidópteros e outros insetos sugadores, como a cigarrinha-do-milho – pragas de grande impacto para a agricultura brasileira.
Ciência para o futuro da agricultura
Há cinco décadas, a Embrapa Cerrados vem construindo uma trajetória marcada por pesquisa e inovação para o bioma Cerrado. A Unidade foi pioneira em estudos de controle biológico e continua ampliando o uso de bioproteção como estratégia para reduzir defensivos químicos, diminuir custos de produção e preservar o meio ambiente. Essas ações dialogam diretamente com as metas globais de descarbonização e com a necessidade de sistemas agrícolas mais sustentáveis.
Celebrar o Dia da Bioproteção é, portanto, reconhecer o papel da ciência brasileira na transformação do conhecimento em soluções acessíveis para agricultores de todos os portes. Em 2025, ano em que completa 50 anos, a Embrapa Cerrados reafirma seu compromisso de seguir inovando, desenvolvendo tecnologias que integrem produtividade, saúde do solo e conservação dos recursos naturais, preparando a agricultura para os desafios do futuro.
*Roberto Teixeira Alves é pesquisador da Embrapa Cerrados