No cenário contemporâneo dos escritórios e demais setores de trabalho, um vírus silencioso e frequentemente subestimado corrói a confiança, destrói reputações e enfraquece a espinha dorsal de qualquer organização: a fofoca. Mais do que um mero passatempo ocioso, a fofoca é uma prática “tóxica” que assume várias formas, cada uma com seu potencial destrutivo único. Desde a “fofoca de carreira”, que especula sobre promoções ou demissões com base em suposições, até a “fofoca pessoal”, que invade a vida privada dos colegas, e a “fofoca manipuladora”, semeada para prejudicar a imagem de um rival, todas compartilham a mesma essência: a comunicação de informações não verificadas, geralmente com intenção negativa.
Os impactos reais desse fenômeno são profundos e diversificados. Para a vítima, o alvo das murmurações, as consequências podem ser devastadoras. A angústia mental, o stress e a sensação de violação e injustiça geram um ambiente hostil, podendo levar à queda de produtividade, ao absenteísmo e, em casos extremos, à depressão. Uma reputação construída com anos de trabalho duro pode ser manchada em minutos por um boato maldoso, afetando não apenas a vida profissional, mas, principalmente, a autoestima e o bem-estar pessoal.
Contudo, é um equívoco pensar que apenas o alvo sofre. Quem fofoca e quem comenta também são vítimas do próprio veneno. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer, em seus estudos sobre a natureza humana, já percebia que a tendência de falar mal dos outros muitas vezes surge da insatisfação consigo mesmo. O fofoqueiro, ao se dedicar à vida alheia, revela uma carência de caráter e uma fuga da autorreflexão. Com o tempo, ele perde a credibilidade. As pessoas ao seu redor começam a questionar: “O que ele dirá de mim quando eu não estiver presente?” A confiança, uma moeda de valor inestimável no mundo organizacional corporativo, é a primeira a ser corroída. O grande orador romano Cícero alertava que “o vício inerente à fofoca é que ela aliena amigos, atrai o ódio dos que são seu tema e não conquista o afeto de ninguém”.
Para qualquer organização, a fofoca é um câncer cultural. Ela mina a cooperação, quebra a coesão da equipa e cria um ambiente de desconfiança mútua no interior do qual a inovação e a comunicação aberta não podem florescer. A energia que deveria ser direcionada para a criatividade e a resolução de problemas é desperdiçada em sussurros nos corredores e mensagens privadas. Sêneca, um sábio conselheiro romano sobre a vida e as condutas, ensinava que devemos ocupar nosso tempo com o que é verdadeiramente importante, evitando as conversas vãs e prejudiciais. O tempo despendido em fofocar é um duplo desperdício: de horas produtivas e de caráter.
Diante desse panorama sombrio, qual é o antídoto? A solução reside na coragem individual de não participar, de não propagar e de confrontar educadamente a prática. Requer uma liderança atenta que promova uma cultura de transparência e feedback direto, na qual os conflitos sejam resolvidos frente a frente, e não pelas costas.
A lição mais profunda e perene sobre esse mal milenar vem das páginas do livro sagrado, a Bíblia, oferecendo uma sabedoria que permanece intocada pelo tempo. O livro de Provérbios, no capítulo 16, versículo 28, encerra com uma clareza cortante: “O homem perverso espalha contendas, e o difamador separa os maiores amigos.” Essa é a essência do problema e o aviso solene. A fofoca não é um pecado social menor; é uma força ativa de discórdia e separação. Ela não apenas fere, mas isola. Não apenas mente, mas destrói laços. A lição importantíssima é esta: cada vez que escolhemos espalhar uma fofoca, estamos assumindo o papel de “homem perverso”, plantando sementes de contenda que podem separar até os maiores amigos e colegas. A verdadeira sabedoria, portanto, está em calar a língua e em usar as palavras para edificar, e não para destruir.
*Thiago Barbosa Soares é analista do discurso, escritor e professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

