A cada hora, uma criança ou adolescente recebe o diagnóstico de câncer no Brasil. É uma realidade dura, mas que precisa ser dita com todas as letras e enfrentada com a urgência que ela exige. Apesar dos avanços na medicina e na ampliação do acesso ao tratamento, o câncer ainda é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes brasileiros. E os dados revelam algo ainda mais preocupante: dependendo da região do país, as chances de cura podem cair pela metade.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), enquanto no Sudeste a taxa média de sobrevivência ao câncer infantojuvenil é de 70%, no Norte essa taxa é de apenas 50%. A explicação passa por fatores como desigualdade socioeconômica, dificuldade de acesso aos serviços de saúde especializados, escassez de profissionais capacitados e falta de políticas públicas específicas e integradas para a oncologia pediátrica. Mas a consequência é uma só: milhares de famílias vendo seus filhos perderem a chance de lutar pela vida, simplesmente porque não conseguiram chegar a tempo.
Um diagnóstico tardio significa menos chances de cura. Uma família desamparada emocional e financeiramente durante o tratamento enfrenta mais dificuldades. Uma criança que abandona o tratamento por falta de transporte ou hospedagem pode não ter uma segunda oportunidade. No Brasil, cerca de 30% das crianças com câncer em situação de vulnerabilidade social abandonam o tratamento, um número alarmante e inaceitável.
É por isso que insistimos tanto em acolher, capacitar, formar redes e investir em suporte integral. O Instituto Ronald McDonald existe há 26 anos justamente para preencher essas lacunas, com programas que atuam em todas as etapas da jornada do câncer infantojuvenil: desde o diagnóstico precoce até a reabilitação e reinserção social, passando por capacitação de profissionais, apoio psicossocial e acolhimento de famílias inteiras nos Programas Casa Ronald McDonald e Espaço da Família Ronald McDonald.
E para garantir que essa rede continue crescendo, existe o McDia Feliz, a maior campanha solidária do país voltada à saúde de crianças e adolescentes com câncer. Em 2025, a mobilização chega à sua 37ª edição com a meta de arrecadar cerca de R$ 25 milhões.
Cada Big Mac vendido no dia 23 de agosto, cada produto oficial comprado, cada empresa parceira, ajuda a tornar possível a criação de novas unidades de acolhimento, mais capacitações profissionais e a ampliação de projetos que impactam diretamente a vida de milhares de crianças em todo o país.
Foi graças ao McDia Feliz, por exemplo, que conseguimos viabilizar a abertura do primeiro Espaço da Família Ronald McDonald do Nordeste, em Recife, inaugurado no dia 14 de julho e que hoje acolhe dezenas de famílias vindas do interior de Pernambuco e de outros estados da região. A nova unidade, a décima do Brasil, foi criada em parceria com o Grupo de Ajuda à Criança Carente com Câncer (GAC-PE), uma das mais de 50 instituições apoiadas pelo McDia Feliz. A unidade funciona no ambulatório do Centro de Oncohematologia Pediátrica (CEONHPE), do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), da Universidade de Pernambuco (UPE). O espaço tem como objetivo oferecer acolhimento, estrutura e dignidade para famílias durante o tratamento da doença.
Neste ano, a campanha vai beneficiar 75 projetos. Ao todo, o McDia Feliz já impactou positivamente mais de 3,3 milhões de crianças e jovens e suas famílias. E cada Big Mac faz a diferença. E é possível participar acessando o site www.mcdiafeliz.org.br.
O McDia Feliz é uma das formas mais concretas de transformar solidariedade em ação. E ele só acontece porque milhares de pessoas se unem por um propósito maior. Quando alguém compra um sanduíche, uma camiseta ou qualquer outro produto oficial da campanha, não está apenas doando dinheiro, está garantindo que uma mãe não precise dormir no chão do hospital, que um pai possa acompanhar o filho durante todo o tratamento, que uma criança não perca a esperança.
É hora de tratarmos o câncer infantojuvenil como uma prioridade nacional. De olharmos para cada estatística e enxergarmos vidas. De unirmos forças entre sociedade civil, iniciativa privada e poder público para mudar esse cenário. Porque nenhuma criança deveria morrer por falta de acesso. Nenhuma família deveria enfrentar o câncer sozinha.
E se depender do Instituto Ronald McDonald, elas não vão.
*Bianca Provedel é jornalista, psicóloga e CEO do Instituto Ronald McDonald.