De uma biodiversidade e atributos inestimáveis em sua fauna e flora, a Amazônia Legal abriga um patrimônio natural que garante à população recursos essenciais e insubstituíveis. Lar de mais de 26 milhões de brasileiros, a região também é berço da Bacia Amazônica e do Rio Amazonas, reconhecidos como a maior bacia hidrográfica e o rio de maior volume de água do planeta.
Frente ao potencial hídrico da Amazônia Legal, que abrange nove estados – Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso – e constitui cerca de 60% de nosso território nacional, o saneamento básico surge como um pilar fundamental para a preservação e proteção da região. Contudo, uma realidade ainda precária expõe a natureza e a população local a condições que pedem por atenção. Todos os dias, um volume de mais de 700 piscinas olímpicas de esgoto não tratado é despejado nos corpos hídricos, deteriorando o meio ambiente e propagando doenças entre os habitantes.
Como o potencial é uma palavra intrínseca a essa região, ao se considerar o papel do saneamento, a universalização do acesso à água tratada e à coleta e ao tratamento de esgoto detém a capacidade de mudar o legado da Amazônia Legal, trazendo consigo benefícios socioeconômicos e ambientais de R$ 330 bilhões até o ano de 2040, conforme estudo do Instituto Trata Brasil.
É uma oportunidade de recuperar corpos hídricos degradados pelo despejo irregular de esgoto e garantir segurança hídrica, levando saúde à população originária e àqueles que vivem em condições vulneráveis na localidade. Isso é algo que impulsiona o desenvolvimento das atividades laborais, o estudo dos jovens e a produtividade do trabalhador.
Entre os estados, sob a ótica dos ganhos per capita da universalização do saneamento - valor médio de retornos econômicos e sociais esperados para cada habitante - a pesquisa aponta Rondônia, Acre e Amazonas com os maiores benefícios. A expectativa é de um ganho superior a R$ 1.000 para Rondônia e mais de R$ 800 para cada um dos outros dois estados. Considerando as capitais da Amazônia Legal, os mais notáveis ganhos se fariam sentir em Rio Branco (AC), com R$ 735,93 a cada habitante. Na sequência, destaque para Porto Velho (RO), com R$ 706,14, e Macapá (AP), com R$ 650,65.
Ao deter o olhar nos dados, é possível perceber que o investimento em saneamento se traduz em um retorno assegurado para o meio ambiente e para a população que reside nos estados e 772 municípios que compõem a Amazônia Legal. É esperado que para cada R$ 1,00 investido em saneamento, o retorno bruto de ganhos econômicos e sociais nessa região seja de R$ 5,10.
Para além das cifras, existem valores incalculáveis que apontam para uma grande melhoria social e ambiental. A bacia e os rios da região vão receber a proteção essencial para que seu ecossistema funcione plenamente. Assim, os habitantes poderão usufruir de um legado de abundantes benefícios, abrindo caminho para a construção de uma vida digna e plena de bem-estar para si e para as futuras gerações.
Á medida que a COP-30 se aproxima, a Amazônia Legal atrai os holofotes do mundo. Sua relevância transcende as divisas nacionais, exercendo impacto e influência em todo o planeta. O saneamento básico ultrapassa a condição de infraestrutura e se torna o guardião da própria essência brasileira, da rica biodiversidade e da vida constante dos corpos hídricos. A universalização do acesso ao básico é passo primordial para um futuro em que a água corra pura e a vida prospere em toda a riqueza natural amazônica.
*Luana Siewert Pretto é engenheira civil (UFSC), com mestrado na área de Análise Multicritério (UFSC) e pós-graduada em Gestão de Projetos (FGV). Atuou na concessionária estadual de saneamento básico de Santa Catarina (CASAN) e como presidente da Empresa Pública municipal de saneamento básico Companhia Águas de Joinville. Atualmente, é Presidente Executiva do Instituto Trata Brasil.

