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Opinião

Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.

Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos. Foto: Divulgação

Foto: Divulgação Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos. Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.

Por que o governo insiste em apontar os aposentados como os grandes vilões do déficit fiscal? Em quase todos os debates sobre ajuste de contas públicas, lá está ela: a Previdência Social, retratada como insustentável, inchada e responsável por desequilibrar as finanças do país. Mas essa narrativa esconde um detalhe importante — e injusto: quem pagou a conta durante a vida toda não é o culpado pelo rombo.

A maioria dos aposentados contribuiu por décadas com descontos mensais em seus salários. Trabalharam, pagaram impostos e contribuíram religiosamente para o sistema. O problema é que esse dinheiro, em vez de ser investido e administrado com responsabilidade, foi desviado de sua finalidade original. Recursos da Previdência foram usados para outras áreas — desde obras públicas até pagamentos de dívidas — sem garantir o retorno necessário para manter o sistema sustentável.

Além disso, fraudes e desvios milionários ao longo dos anos corroeram ainda mais os cofres do INSS. Auditorias e investigações apontam para esquemas de corrupção e pagamentos indevidos que drenaram recursos públicos e aprofundaram a crise. O chamado “rombo da Previdência” tem muito mais a ver com má gestão e corrupção do que com os direitos legítimos dos aposentados.

Como se não bastasse, os aposentados ainda enfrentam outro desafio: o crédito consignado. Muitas vezes vendido como solução rápida, ele se transforma em armadilha para milhares de idosos. Com juros altos e descontos automáticos na folha de pagamento, o crédito consignado tem levado muitos aposentados a viverem com parte mínima de seus benefícios, comprometendo sua qualidade de vida. Em vez de apoio, recebem ofertas agressivas de endividamento.

A Constituição de 1988 instituiu um modelo de seguridade social baseado na solidariedade entre gerações. O trabalhador ativo financia os benefícios dos aposentados de hoje e espera, no futuro, contar com o mesmo apoio. Mas esse pacto social exige que o Estado cuide dos recursos arrecadados com transparência e responsabilidade. O que ocorreu foi o contrário: má gestão, uso político das verbas e abandono de políticas de longo prazo.

Mesmo assim, o aposentado — que já contribuiu e hoje recebe benefícios muitas vezes abaixo do necessário para uma vida digna — continua sendo tratado como peso para o Estado. A narrativa dominante tenta justificar reformas que aumentam o tempo de contribuição, reduzem valores e impõem ainda mais sacrifícios aos mesmos que sustentaram o sistema por anos.

É hora de mudar o foco. A crise fiscal brasileira não é culpa do aposentado. Ela é resultado de decisões equivocadas, má gestão e uso indevido de recursos públicos.

Defender os aposentados é defender o futuro de todos.

Respeitar quem já fez sua parte é o primeiro passo para construir um país mais justo.

*Antonio Tuccilio é presidente da Confederação Nacional dos Servidores Públicos.