A morte do cantor e compositor Lô Borges, um dos maiores personagens da Música Popular Brasileira (MPB), por falência múltipla de órgãos decorrente de intoxicação medicamentosa, acende mais um sinal de alerta sobre um grave problema de saúde pública no País, analisa o Sindicato dos Farmacêuticos do Tocantins (Sindifato). Numa espécie de ironia, substâncias elaboradas com o intuito de ajudar o cidadão a restabelecer a saúde, têm sido usadas indiscriminadamente, resultando em efeitos adversos dos mais variados possíveis.
"Embora os medicamentos representem uma ferramenta poderosa e indispensável para a promoção da saúde, seu manuseio exige discernimento rigoroso, conhecimento preciso e, crucialmente, a orientação qualificada de um profissional. A automedicação, uma prática lamentavelmente arraigadas em nossa cultura, não é apenas um mau hábito; ela emerge como um inimigo sorrateiro, deturpando o seu propósito curativo e transformando o que deveria ser alívio em um perigoso vetor de risco à própria vida", ressalta o presidente da entidade representativa, Renato Soares Pires Melo.
Dados nacionais apontam consistentemente os medicamentos como uma das principais causas de intoxicação no Brasil. Em 2021, por exemplo, do total de intoxicações envolvendo produtos sujeitos à vigilância sanitária (91.883), 79,7% foram relacionados a medicamentos (74.123) e 7,3% a produtos de uso doméstico (6.771).
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30 mil casos por ano
Cerca de 30 mil casos de internação por intoxicação medicamentosa são registrados anualmente no Brasil, sendo as crianças as maiores vítimas (cerca de 35% das estatísticas gerais)
A intoxicação por remédios é uma ocorrência silenciosa e frequente, reforça o Sindifato. "É fundamental reconhecer que os dados oficiais sobre intoxicações medicamentosas representam apenas a ponta do iceberg, visto que a subnotificação é uma constante preocupante. A verdadeira dimensão dessa realidade é, portanto, ainda mais alarmante. O emprego indiscriminado de medicamentos não só pode ocultar diagnósticos precisos, como também tem o potencial de agravar patologias existentes. Diante disso, nossa orientação categórica é que se busque sempre o aconselhamento especializado de um farmacêutico. A conduta de 'esperar para ver' o que acontecerá, nesse contexto, é frequentemente uma aposta perigosa com consequências imprevisíveis", argumenta o presidente do Sindifato.
Não é um produto comum
O Sindifato enfatiza que não se pode "encarar medicamento como um produto comum" e ressalta que a atuação do farmacêutico é uma ferramenta de prevenção essencial. Este profissional é fundamental para orientar pacientes e familiares sobre a administração correta de cada medicamento, incluindo dose, horários e vias de administração, o que pode prevenir erros graves.
Entre os desafios do farmacêutico junto ao paciente, estão:
*Identificar interações perigosas: apontar combinações entre substâncias que podem potencializar efeitos tóxicos no organismo.
*Combater a automedicação: alertar sobre os riscos da automedicação, prática culturalmente enraizada no País.

